26.3.07

C.H.E. Zambujalense
Habitação para todos

Fundada em 1976 e com os cheiros de Abril no ar, a Cooperativa de Habitação e Construção Económica União Trabalhadora Zambujalense, CRL, ou apenas CHE Zambujalense surgiu com a intenção de satisfazer as necessidades habitacionais da população, construindo e promovendo a aquisição de fogos para os seus associados desde que não possuíssem casa própria na área de actuação da Cooperativa. Um outro fim seria o de fomentar a cultura e a prática do cooperativismo.

Próximo das praias, da natureza e cada vez mais dos transportes e projectos previstos para o Concelho de Sesimbra, o custo de uma moradia geminada T3 a estrear no Zambujal ronda agora os 180 mil euros, cerca de 36 mil contos na moeda antiga.

Uma urbanização verde no Concelho de Sesimbra

Vindo de Santana e no sentido do Cabo Espichel, o Nova Morada – NM, virou à esquerda, na Casa do Povo do Zambujal. Por trás da biblioteca, esqueletos de 5 novas casas tomam forma. Em cima, à direita, a placa “BAIRRO C.H.E. Zambujalense, inaugurado em 15-09-1985” marca o início da povoação. “A placa já esteve lá em baixo, mas depois foi passada para aqui...”, explicou Francisco Baltazar, um dos primeiros habitantes do Bairro. Talvez em breve a insígnia volte a descer para o início da rua, afinal as casas multiplicaram-se e as residências em construção estão mais próximas da estrada principal.

De Outubro de 2005 a Maio deste ano, a CHE Zambujalense atribuiu 10 novas geminadas T3 que foram vendidas por 110 mil euros, menos 70 mil do que o custo habitual pedido pelas imobiliárias. “Há casas com mais de 20 anos que são vendidas por outras entidades por um valor superior ao das novas”, esclareceu Susana Silva, funcionária da Cooperativa. Os lotes que já foram pagos à Cooperativa são responsabilidade dos seus proprietários, podendo assim ser vendidos e fugir ao artigo que define a expulsão de um sócio que abandone o local por tempo superior a um ano salvo em condições especiais, tais como motivos de ordem profissional ou de emigração. Assim, enquanto algumas famílias se desfazem das residências do Bairro optando pela sua venda ou até mesmo abandono, outras aguardam a escritura. Alguns dos actuais proprietários tiveram de esperar cerca de 6 anos para ver o sonho tornar-se real. Da delonga resultou a aquisição de um imóvel “na zona com as infra-estruturas mais verdes do Concelho”. As 5 novas habitações já têm os seus destinatários definidos. Para além desses sócios, outros 7 aguardam a sua vez. Em caso de desistência serão os próximos contemplados. De início a prioridade era dada aos filhos dos associados mas por falta de interesse o concurso foi aberto à população em geral. Houve tempos em que a CHE foi competitiva, mas considerando 12 anos de pausa nas construções os contactos escassearam, resumindo-se agora a cerca de dez telefonemas mensais. Para além disso, neste momento não estão abertas inscrições, por não haverem mais terrenos para construir.

Para além dos 6 euros de quota mensal, os inscritos pagam 175 euros – também mensais - de “poupança antecipada” que serão abatidos no momento da compra.

Os lotes, cedidos pela Câmara Municipal de Sesimbra, têm vindo a ser pagos ao EDIL desde há 17 anos faltando ainda 8 para que a dívida esteja selada.

No seu reportório, a CHE conta com 3 fases de elevada importância. Há cerca de 22 anos construiu e vendeu 98 casas, pintadas com suaves riscas azuis tendo hoje, muitas delas, jardins e árvores imponentes. Na segunda fase, que aconteceu há 12 anos, venderam-se 30 residências que, para distinção, foram pintadas de amarelo. Agora surgem estas 15 novas habitações. Todas elas se entrelaçam em harmonia. Entre casas e espaços verdes distinguem-se um parque infantil e um anfiteatro. A urbanização conta também com um edifício de primeiro andar, que para além de servir de sede à Cooperativa é alugado para servir de Snack Bar e no rés do chão para funcionar como Supermercado, neste momento “fechado para obras”.

A promoção de iniciativas sociais, culturais, materiais e de qualidade de vida, nomeadamente a organização de postos de abastecimento, lavandarias, serviços de limpeza e arranjos domésticos, creches e infantários, salas de estudo, campos de jogos, lares ou centros de dia é um dos objectivos sociais constantes nos seus estatutos. Neste âmbito, o grande projecto da CHE Zambujalense voltou-se para a construção de um Polidesportivo, que inclui uma piscina, mas que continua na gaveta. Definido e aprovado pelo Instituto Nacional do Desporto, aguarda que as entidades bancárias se disponham a proceder ao empréstimo para dar início às obras, solicitado há pouco mais de um ano, “para nós é complicado suportar esse montante.Somos uma Cooperativa sem fins lucrativos e ainda não insistimos”, justificou Susana Silva.

Assaltos no Bairro? Há fama de um... De acordo com a funcionária da Cooperativa, até à data houve o rumor de um roubo a uma casa mais afastada, próxima do campo da ACRUTZ.
Francisco Baltazar, sócio nº 60 e que foi tesoureiro da CHE durante 8 anos, também ouviu falar sobre a ocorrência. Não duvida da segurança existente na sua zona mas reconhece que numa área mais distante possam ter surgido problemas. “Agora há muita malta falsa...”, lamenta.

A malta antiga do Bairro

Contrastando com o espaço verde onde encontrámos o antigo residente em refúgio do calor, o NM deparou-se, na outra extremidade da rua, com uma casa abandonada cujo quintal se tornou um jardim de ervas daninhas secas pelo Verão.

Acerca de um dia rumar para outras bandas, respondeu de imediato “lutei muito para ter aqui uma casa por isso nunca a vendia...”. Afinal nem todos pensaram assim... Apesar de ter um filho a residir no mesmo bairro, Francisco Baltazar reconheceu que os estatutos iniciais, que davam preferência de aquisição aos descendentes dos sócios, perderam a importância “os filhos estão-se nas tintas, não querem vir para aqui...”.

Os novos habitantes do Bairro correm o risco de desconhecer que vivem num espaço pensado por muitas cabeças conjuntas, com empenho e carinho.

“Já nem todos se conhecem! Uns venderam as casas, outros desligaram-se das pessoas. A malta nova não diz bom dia. Isso são os mais antigos, que estão aqui há vinte e tal anos, damo-nos todos uns com os outros, somos muito unidos!”

Unidos por laços de cooperantes, os sócios habitam o Bairro C.H.E. Zambujalense com tranquilidade. Algures, outros olhos estarão atentos, esperando a abertura das inscrições para um dia também terem direito a uma casa mais económica e “na zona com as infra-estruturas mais verdes” do Concelho de Sesimbra.

Nova Morada, Edição nº 297, 4 Agosto 2006