JOVEM EMPRESÁRIO DO SEIXAL DISTINGUIDO EM BRUXELAS
Depois de exportar produtos para Espanha, a Science4you vai ser condecorada em Bruxelas e prepara-se já para exportar brinquedos científicos para o Brasil
Com apenas 25 anos, Miguel Pina Martins tornou-se figura de destaque na Europa, sendo distinguido pela Comissão Europeia como “Empreendedor do Ano 2010”. Na próxima
semana, o ex-autarca na Câmara do Seixal ruma a Bruxelas, onde irá representar Portugal e a sua conceituada empresa, Science4you, pioneira na concepção de brinquedos científicos em solo nacional.
Um projecto de início fustigado pelas burocracias, mas que viria a ser bem sucedido e alvo de elogios em grande parte da Imprensa Nacional.
Em tempos de contenção, o jovem sente algum receio, mas afirma que a Sience4you “foi a melhor decisão que tomei até hoje”!
A Science4you é composta por 15 sócios: quatro alunos da escola,quatro professores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e os restantes professores do ISCTE. Sedeada no Campus da Universidade de Ciências, para andar “em cima dos cientistas”, a empresa não tem mãos a medir e recentemete divulgou uma nova gama de brinquedos didácticos cujo preço varia entre os 7,90€ e os 9,90 euros.
Jornal do Seixal – O que é a Science4you?
Miguel Pina Martins – A Science4you é uma empresa de brinquedos científicos que nasceu há dois anos e meio numa parceria com o ISCTE - Onde eu fui aluno tanto no Mestrado como na Licenciatura - e aFaculdade de Ciências.
JS - Quais são os papéis destas duas Universidades na Science4you?
MPM - A Faculdade de Ciências dá ideias para que o ISCTE, enquanto escola de gestão, monte os planos de negócios.
JS – Esta foi a primeira empresa no País a apostar neste ramo. Como é que surgiu a ideia?
MPM - Na altura eu era aluno e saiu-nos na rifa um projecto académico que mais tarde se viria a tornar num projecto empresarial.
Quando terminei o curso não sabia muito bem o que queria fazer, se ser auditor, consultor ou optar pela banca, que acabou por ser a minha opção. Passados três meses, já tinha uma certeza: sabia o que não queria fazer, porque aquilo da banca era
muito simples, ou se compra, ou se vende, ou se mantém... não se pode fazer mais nada e isso pareceu-me um pouco monótono e como estava no início de carreira era a minha oportunidade para arriscar.
Em Novembro de 2007 criámos a Science4you financiados com capital de risco e foi nesta segunda fase que houve um repensar e recriar as coisas já iniciadas na Faculdade. O que mais alterou foi começar a lidar cOm o ‘sense for you’ e com o trabalho, porque no papel é tudo muito bonito mas passar para a prática é mais
complicado...
JS – Da integração no mercado nacional à exportação para Espanha foi um instante...
MPM – Sim. Começámos em Janeiro de 2008 e em Outubro já tínhamos artigos na ‘Fnac’, no ‘Corte Inglês’ e na ‘Toys’R’Us’. Passado um ano fomos convidados para apresentar os brinquedos na Fnac Espanha. Ficámos muito contentes, respondemos ao chamamento e foi assim que se deu a internacionalização.
“Há um ano eu era (…) o porteiro, o recepcionista, passando pelo armazém a pôr as etiquetas, comercial e até presidente do Conselho de Administração…”
JS – Apesar de contar com 15 sócios, o Miguel é a alma da Science4you. Quais têm sido as suas responsabilidades na empresa?
MPM – Há um ano eu era o único trabalhador da empresa, era o porteiro, o Recepcionista, passando pelo armazém a pôr as etiquetas, comercial e até presidente do Conselho de Administração, tinha de ser completamente transversal! Foi o que aconteceu, tive um percurso um pouco solitário, mas actualmente somos oito e em breve seremos dez, já temos pessoas para a recepção, já temos cientistas e designers... dez pessoas já é uma estrutura grande para quem estava habituado a estar sozinho num gabinete!
JS – Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou?
MPM – Houve algumas dificuldades, todas a nível de burocracia. São muitas as burocracias que este País tem! Quando criamos uma empresa temos de registar as marcas, por isso tive de registar a Science4you no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O INPI é muito interessante e fala muito no registo da marca na hora, mas na realidade não foi assim! A empresa iniciou em Janeiro e pensámos dar início ao registo da marca em Abril, porque ainda a tínhamos de desenhar e dar início ao portfólio que lhe está associada. Chegámos ao INPI e pensei que no máximo um mês a marca já estaria registada, mas a verdade é que leva cerca de um ano.
Se tivéssemos de esperar um ano para começar a vender, é óbvio que nessa altura já não teríamos dinheiro nem para pagar a factura da electricidade e por isso começámos com a marca sem a garantia de que não havia nenhuma outra registada. Vá lá que não tivemos nenhuma chatice...
JS – Apesar disso, o Primeiro-Ministro declarou esta semana à RTP1 que actualmente é possível constituir uma empresa na hora, através da Internet...
MPM – Não, isso é onde o nosso primeiro-ministro está melhor, que é na propaganda, isso é totalmente interessante! Eles falam na empresa na hora e na marca na hora... se uma pessoa escolhe o nome da empresa numa lista de cem nomes onde está o ‘Doces e Bolinhos’, ou o ‘Açúcar com Bolo’ isso acontece na hora! Mas o nome é fundamental no Marketing! Muitos cafés, por exemplo, optam por um nome da lista e têm nome e nif (número de identificação fiscal) na hora, mas até aqui há uma falha! Eu tenho nif na hora, mas só tenho o certificado permanente passados 15 dias, ou seja, só nessa altura posso mexer no dinheiro no banco... posso lá pôr dinheiro, mas não posso fazer pagamentos, o que não é bem na hora...
JS – Avançaram então para o mercado um pouco de pé atrás em relação ao nome da marca...
MPM – Sim e não tivemos problemas, mas este tipo de dificuldades mata as empresas, por vezes perde-se a oportunidade de negócio! Por exemplo, posso dizer que quando entrámos não havia produtos científicos no mercado e neste momento há cinco marcas! Se tivessemos esperado um ano já não sei se conseguíamos! Há oportunidades de mercado que têm de ser agarrados e com este tipo de circunstâncias podíamos ter perdido a oportunidade e isto não estaria aqui...
Tudo correu bem, mas podíamos ter tido um berbicacho enorme a nível de investimento e pessoal, porque se os donos das marcas nos processassem e com direito, teríamos problemas maiores!
JS – E facilidades, houve?
MPM – Uma facilidade é o facto da Faculdade de Ciências estar associada ao brinquedo, o público sabe que tudo o que lá está dentro estará certo e que as experiências funcionam!
“As crianças aprendem mais enquanto brincam do que enquanto estudam...”
JS – O vosso catálogo apresenta quase 20 brinquedos, mas vamos falar sobre este que trouxe intitulado “Primeiros Passos na Brincadeira do Som”. No que é que consiste?
MPM – Este brinquedo custa 8 euros e tem de a oferta de 80 euros em entradas em Museus de Ciência!
Na prática, este brinquedo explica que se podem construir diversos instrumentos musicais de forma muito simples, com cordas e com elásticos,instrumentos de missangas e coisas muito básicas que permitem perceber onde é que a Física mexe nisto tudo, já que está mais direccionada para o som.
A nossa gama tem 19 brinquedos, desde um estojo de Química normal e normalíssimo, a um de energia eólica, energia solar em carros e barcos... os nossos artigos têm um interesse pedagógico um pouco diferente do Ken e da Barbie, ou da metralhadora e da pistola, que é o que se dá habitualmente a uma criança...
JS – Quantos brinquedos pensa ter vendido até à data?
MPM – Penso que um total de 70 mil em Portugal e Espanha. Contamos iniciar a comercialização no Brasil em Outubro, ou seja, esperamos de ano a ano entrar num país diferente...
JS – Actualmente contam com seis novos brinquedos com preços entre os 7,90€ e os 9,90€, mas também dispõem de outros mais complicados, que podem ultrapassar os 100 euros. Que brinquedos são esses?
MPM – O carro movido a hidrogénio, que anda com água, custa 129€, mas a média anda nos 18€, 20 euros.
Estes são brinquedos científicos que permitem às crianças aplicar na prática aquilo que aprendem teoricamente na escola. Atenção que isto não é um livro, é um brinquedo e as crianças aprendem mais enquanto brincam do que enquanto estudam...
JS –Qual foi o vosso primeiro brinquedo?
MPM – O brinquedo movido a energia eólica, que contém uma turbina de vento - um moinho como costumamos ver nas montanhas – e se lá colocarmos uma pilha, por exemplo e for um dia ventoso, no final do dia, a pilha está carregada.
Este brinquedo tem uma componente verde e uma montagem que é uma espécie de Lego, já que é montada pelas crianças e até pelos pais.
JS – Para além dos brinquedos, a Science4you tem uma componente de formação em diversas áreas. Comecemos pelos Campos de Férias...
MPM – Os Campos de Férias incluem a Universidade de Verão, a Universidade de Natal e a Universidade de Páscoa. A de Verão é a próxima, que inicia nas férias escolares
e que dá às crianças um ‘feeling’do que é a Faculdade promovendo já o bichinho por partilhar esse ambiente. Têm a oportunidade de passar um dia na Faculdade, almoçar na Cantina Universitária, estar com os colegas mais velhos, sendo que o componente básico é uma manhã ou tarde de laboratório, onde fazem várias experiências, por exemplo, constroem um ‘rocket’ (míssil) que lançam apenas com fermento e vinagre, coisas básicas que levam a brincadeira àquilo que deram na escola e com a certeza de que não se vão esquecer de como tudo aconteceu...
“Vale a pena arriscar, temos um mercado pequeno e dinâmico, não estamos assim tão mal como por vezes se diz por aí!”
JS – O que é que fazem nas festas de aniversário?
MPM – Fazemos festas de aniversário com experiências mais apelativas, que deitam fumo, mudam as cores, coisas muito básicas mas que deixam as crianças muito admiradas...
JS – Falamos de crianças com que idades?
MPM – Dos seis aos treze anos.
JS – Para além disso ainda têm um laboratório móvel...
MPM – Sim, que é utilizado em circunstâncias muito especiais, por exemplo, vamos estar agora no Fórum Montijo, onde fazemos experiências apelativas onde as crianças que passam podem assistir um pouco ao que se passa na Faculdade.
JS – Entre as diversas Formações têm um que nos despertou a atenção e que se refere a sabonetes. No que é que consiste?
MPM – Neste caso falamos mesmo de sabonetes que fazemos. Explicamos a Ciência que está por detrás do sabonete e cada um pode levar o seu para casa.
JS – A Science4you foi distinguida pela Comissão Europeia como “Empreendedor do Ano 2010”. Como é que isto aconteceu? Candidataram-se?
MPM – Não! Todos os anos é escolhida uma empresa e uma pessoa da União Europeia e neste caso escolheram-me a mim e à Science4you, por ser jovem, o negócio estar a correr minimamente bem e pronto... vamos buscar o prémio na próxima terça-feira à cerimónia da ‘SME Week’ (Semana das Pequenas e Médias Empresas), a decorrer em Bruxelas.
JS – O que é que isto representa?
MPM – Acima de tudo representa uma grande responsabilidade, porque apesar de ser uma competição saudável, vamos representar Portugal.
É também uma grande honra, não só por sermos reconhecidos mas por ser pela Comissão Europeia e por sermos os seleccionados entre milhares...
JS – No seguimento da ‘SME Week’ vão realizar um evento sobre “Empreendedorismo, Juventude e Internacionalização”. Que evento é este?
MPM - É um evento que surge no âmbito da SME Week e que vai decorrer no dia 31 de Maio no ISCTE.
Vamos poder ouvir o Luís Palha da Silva falar sobre empreendorismo e sobre a importância que a juventude tem no sector e o que leva a isso. Também vamos contar com a presença do professor Paulo Esperança que é um grande mestre do empreendorismo e com a minha presença. O grande objectivo deste evento é dar a conhecer a
Science4you e explicar à juventude como se pode lançar no ramo, já que o empreendorismo é muito interessante e engraçado e, pelo menos no meu caso, foi a melhor decisão que tomei até hoje!
JS – Não tiveram receio de se perder nas teias da famosa crise?
MPM – Nós sempre vivemos em crise, por isso não temos outro cenário... é claro que a situação não é positiva, em especial porque quando os nossos parceiros têm de
apertar, apertam em todo o lado, mas temos de vender e apesar das novas medidas me colocarem algum receio,estou certo de que vai correr tudo muito bem em Espanha e Portugal e daqui a dois anos já estaremos num panorama melhor...
JS – Uma mensagem para os jovens que ainda ponderam ser empreendedores...
MPM – Acima de tudo, arrisquem! Vale a pena arriscar, temos um mercado pequeno e dinâmico, não estamos assim tão mal como por vezes se diz por aí! Vale a pena arriscar, a pessoa dá uma volta na vida... para mim é como se fosse fim-de-semana todos os dias porque vou trabalhar com todo o gosto, o que é diferente de quando se trabalha por conta de outrém! Tenho uma realização pessoal fantástica!
As pessoas que tiverem ideias, boas ideias e ideias um bocadinho diferentes – porque o mercado está saturado daquilo que é igual – arrisquem! Nunca fui rico, os meus pais nunca foram ricos e não fui ao BES (risos). Eu próprio meti capital de mil euros numa empresa com 50 mil euros de capital social, ou seja, hoje em dia não é preciso ser-se rico para se ter uma empresa, mas ter boas ideias e muita vontade
de trabalhar, não ser daqueles que deitam a toalha ao chão à primeira ou segunda barreira.
Jornal do Seixal, Maio de 2010
Depois de exportar produtos para Espanha, a Science4you vai ser condecorada em Bruxelas e prepara-se já para exportar brinquedos científicos para o Brasil
Com apenas 25 anos, Miguel Pina Martins tornou-se figura de destaque na Europa, sendo distinguido pela Comissão Europeia como “Empreendedor do Ano 2010”. Na próxima
semana, o ex-autarca na Câmara do Seixal ruma a Bruxelas, onde irá representar Portugal e a sua conceituada empresa, Science4you, pioneira na concepção de brinquedos científicos em solo nacional.
Um projecto de início fustigado pelas burocracias, mas que viria a ser bem sucedido e alvo de elogios em grande parte da Imprensa Nacional.
Em tempos de contenção, o jovem sente algum receio, mas afirma que a Sience4you “foi a melhor decisão que tomei até hoje”!
A Science4you é composta por 15 sócios: quatro alunos da escola,quatro professores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e os restantes professores do ISCTE. Sedeada no Campus da Universidade de Ciências, para andar “em cima dos cientistas”, a empresa não tem mãos a medir e recentemete divulgou uma nova gama de brinquedos didácticos cujo preço varia entre os 7,90€ e os 9,90 euros.
Jornal do Seixal – O que é a Science4you?
Miguel Pina Martins – A Science4you é uma empresa de brinquedos científicos que nasceu há dois anos e meio numa parceria com o ISCTE - Onde eu fui aluno tanto no Mestrado como na Licenciatura - e aFaculdade de Ciências.
JS - Quais são os papéis destas duas Universidades na Science4you?
MPM - A Faculdade de Ciências dá ideias para que o ISCTE, enquanto escola de gestão, monte os planos de negócios.
JS – Esta foi a primeira empresa no País a apostar neste ramo. Como é que surgiu a ideia?
MPM - Na altura eu era aluno e saiu-nos na rifa um projecto académico que mais tarde se viria a tornar num projecto empresarial.
Quando terminei o curso não sabia muito bem o que queria fazer, se ser auditor, consultor ou optar pela banca, que acabou por ser a minha opção. Passados três meses, já tinha uma certeza: sabia o que não queria fazer, porque aquilo da banca era
muito simples, ou se compra, ou se vende, ou se mantém... não se pode fazer mais nada e isso pareceu-me um pouco monótono e como estava no início de carreira era a minha oportunidade para arriscar.
Em Novembro de 2007 criámos a Science4you financiados com capital de risco e foi nesta segunda fase que houve um repensar e recriar as coisas já iniciadas na Faculdade. O que mais alterou foi começar a lidar cOm o ‘sense for you’ e com o trabalho, porque no papel é tudo muito bonito mas passar para a prática é mais
complicado...
JS – Da integração no mercado nacional à exportação para Espanha foi um instante...
MPM – Sim. Começámos em Janeiro de 2008 e em Outubro já tínhamos artigos na ‘Fnac’, no ‘Corte Inglês’ e na ‘Toys’R’Us’. Passado um ano fomos convidados para apresentar os brinquedos na Fnac Espanha. Ficámos muito contentes, respondemos ao chamamento e foi assim que se deu a internacionalização.
“Há um ano eu era (…) o porteiro, o recepcionista, passando pelo armazém a pôr as etiquetas, comercial e até presidente do Conselho de Administração…”
JS – Apesar de contar com 15 sócios, o Miguel é a alma da Science4you. Quais têm sido as suas responsabilidades na empresa?
MPM – Há um ano eu era o único trabalhador da empresa, era o porteiro, o Recepcionista, passando pelo armazém a pôr as etiquetas, comercial e até presidente do Conselho de Administração, tinha de ser completamente transversal! Foi o que aconteceu, tive um percurso um pouco solitário, mas actualmente somos oito e em breve seremos dez, já temos pessoas para a recepção, já temos cientistas e designers... dez pessoas já é uma estrutura grande para quem estava habituado a estar sozinho num gabinete!
JS – Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou?
MPM – Houve algumas dificuldades, todas a nível de burocracia. São muitas as burocracias que este País tem! Quando criamos uma empresa temos de registar as marcas, por isso tive de registar a Science4you no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O INPI é muito interessante e fala muito no registo da marca na hora, mas na realidade não foi assim! A empresa iniciou em Janeiro e pensámos dar início ao registo da marca em Abril, porque ainda a tínhamos de desenhar e dar início ao portfólio que lhe está associada. Chegámos ao INPI e pensei que no máximo um mês a marca já estaria registada, mas a verdade é que leva cerca de um ano.
Se tivéssemos de esperar um ano para começar a vender, é óbvio que nessa altura já não teríamos dinheiro nem para pagar a factura da electricidade e por isso começámos com a marca sem a garantia de que não havia nenhuma outra registada. Vá lá que não tivemos nenhuma chatice...
JS – Apesar disso, o Primeiro-Ministro declarou esta semana à RTP1 que actualmente é possível constituir uma empresa na hora, através da Internet...
MPM – Não, isso é onde o nosso primeiro-ministro está melhor, que é na propaganda, isso é totalmente interessante! Eles falam na empresa na hora e na marca na hora... se uma pessoa escolhe o nome da empresa numa lista de cem nomes onde está o ‘Doces e Bolinhos’, ou o ‘Açúcar com Bolo’ isso acontece na hora! Mas o nome é fundamental no Marketing! Muitos cafés, por exemplo, optam por um nome da lista e têm nome e nif (número de identificação fiscal) na hora, mas até aqui há uma falha! Eu tenho nif na hora, mas só tenho o certificado permanente passados 15 dias, ou seja, só nessa altura posso mexer no dinheiro no banco... posso lá pôr dinheiro, mas não posso fazer pagamentos, o que não é bem na hora...
JS – Avançaram então para o mercado um pouco de pé atrás em relação ao nome da marca...
MPM – Sim e não tivemos problemas, mas este tipo de dificuldades mata as empresas, por vezes perde-se a oportunidade de negócio! Por exemplo, posso dizer que quando entrámos não havia produtos científicos no mercado e neste momento há cinco marcas! Se tivessemos esperado um ano já não sei se conseguíamos! Há oportunidades de mercado que têm de ser agarrados e com este tipo de circunstâncias podíamos ter perdido a oportunidade e isto não estaria aqui...
Tudo correu bem, mas podíamos ter tido um berbicacho enorme a nível de investimento e pessoal, porque se os donos das marcas nos processassem e com direito, teríamos problemas maiores!
JS – E facilidades, houve?
MPM – Uma facilidade é o facto da Faculdade de Ciências estar associada ao brinquedo, o público sabe que tudo o que lá está dentro estará certo e que as experiências funcionam!
“As crianças aprendem mais enquanto brincam do que enquanto estudam...”
JS – O vosso catálogo apresenta quase 20 brinquedos, mas vamos falar sobre este que trouxe intitulado “Primeiros Passos na Brincadeira do Som”. No que é que consiste?
MPM – Este brinquedo custa 8 euros e tem de a oferta de 80 euros em entradas em Museus de Ciência!
Na prática, este brinquedo explica que se podem construir diversos instrumentos musicais de forma muito simples, com cordas e com elásticos,instrumentos de missangas e coisas muito básicas que permitem perceber onde é que a Física mexe nisto tudo, já que está mais direccionada para o som.
A nossa gama tem 19 brinquedos, desde um estojo de Química normal e normalíssimo, a um de energia eólica, energia solar em carros e barcos... os nossos artigos têm um interesse pedagógico um pouco diferente do Ken e da Barbie, ou da metralhadora e da pistola, que é o que se dá habitualmente a uma criança...
JS – Quantos brinquedos pensa ter vendido até à data?
MPM – Penso que um total de 70 mil em Portugal e Espanha. Contamos iniciar a comercialização no Brasil em Outubro, ou seja, esperamos de ano a ano entrar num país diferente...
JS – Actualmente contam com seis novos brinquedos com preços entre os 7,90€ e os 9,90€, mas também dispõem de outros mais complicados, que podem ultrapassar os 100 euros. Que brinquedos são esses?
MPM – O carro movido a hidrogénio, que anda com água, custa 129€, mas a média anda nos 18€, 20 euros.
Estes são brinquedos científicos que permitem às crianças aplicar na prática aquilo que aprendem teoricamente na escola. Atenção que isto não é um livro, é um brinquedo e as crianças aprendem mais enquanto brincam do que enquanto estudam...
JS –Qual foi o vosso primeiro brinquedo?
MPM – O brinquedo movido a energia eólica, que contém uma turbina de vento - um moinho como costumamos ver nas montanhas – e se lá colocarmos uma pilha, por exemplo e for um dia ventoso, no final do dia, a pilha está carregada.
Este brinquedo tem uma componente verde e uma montagem que é uma espécie de Lego, já que é montada pelas crianças e até pelos pais.
JS – Para além dos brinquedos, a Science4you tem uma componente de formação em diversas áreas. Comecemos pelos Campos de Férias...
MPM – Os Campos de Férias incluem a Universidade de Verão, a Universidade de Natal e a Universidade de Páscoa. A de Verão é a próxima, que inicia nas férias escolares
e que dá às crianças um ‘feeling’do que é a Faculdade promovendo já o bichinho por partilhar esse ambiente. Têm a oportunidade de passar um dia na Faculdade, almoçar na Cantina Universitária, estar com os colegas mais velhos, sendo que o componente básico é uma manhã ou tarde de laboratório, onde fazem várias experiências, por exemplo, constroem um ‘rocket’ (míssil) que lançam apenas com fermento e vinagre, coisas básicas que levam a brincadeira àquilo que deram na escola e com a certeza de que não se vão esquecer de como tudo aconteceu...
“Vale a pena arriscar, temos um mercado pequeno e dinâmico, não estamos assim tão mal como por vezes se diz por aí!”
JS – O que é que fazem nas festas de aniversário?
MPM – Fazemos festas de aniversário com experiências mais apelativas, que deitam fumo, mudam as cores, coisas muito básicas mas que deixam as crianças muito admiradas...
JS – Falamos de crianças com que idades?
MPM – Dos seis aos treze anos.
JS – Para além disso ainda têm um laboratório móvel...
MPM – Sim, que é utilizado em circunstâncias muito especiais, por exemplo, vamos estar agora no Fórum Montijo, onde fazemos experiências apelativas onde as crianças que passam podem assistir um pouco ao que se passa na Faculdade.
JS – Entre as diversas Formações têm um que nos despertou a atenção e que se refere a sabonetes. No que é que consiste?
MPM – Neste caso falamos mesmo de sabonetes que fazemos. Explicamos a Ciência que está por detrás do sabonete e cada um pode levar o seu para casa.
JS – A Science4you foi distinguida pela Comissão Europeia como “Empreendedor do Ano 2010”. Como é que isto aconteceu? Candidataram-se?
MPM – Não! Todos os anos é escolhida uma empresa e uma pessoa da União Europeia e neste caso escolheram-me a mim e à Science4you, por ser jovem, o negócio estar a correr minimamente bem e pronto... vamos buscar o prémio na próxima terça-feira à cerimónia da ‘SME Week’ (Semana das Pequenas e Médias Empresas), a decorrer em Bruxelas.
JS – O que é que isto representa?
MPM – Acima de tudo representa uma grande responsabilidade, porque apesar de ser uma competição saudável, vamos representar Portugal.
É também uma grande honra, não só por sermos reconhecidos mas por ser pela Comissão Europeia e por sermos os seleccionados entre milhares...
JS – No seguimento da ‘SME Week’ vão realizar um evento sobre “Empreendedorismo, Juventude e Internacionalização”. Que evento é este?
MPM - É um evento que surge no âmbito da SME Week e que vai decorrer no dia 31 de Maio no ISCTE.
Vamos poder ouvir o Luís Palha da Silva falar sobre empreendorismo e sobre a importância que a juventude tem no sector e o que leva a isso. Também vamos contar com a presença do professor Paulo Esperança que é um grande mestre do empreendorismo e com a minha presença. O grande objectivo deste evento é dar a conhecer a
Science4you e explicar à juventude como se pode lançar no ramo, já que o empreendorismo é muito interessante e engraçado e, pelo menos no meu caso, foi a melhor decisão que tomei até hoje!
JS – Não tiveram receio de se perder nas teias da famosa crise?
MPM – Nós sempre vivemos em crise, por isso não temos outro cenário... é claro que a situação não é positiva, em especial porque quando os nossos parceiros têm de
apertar, apertam em todo o lado, mas temos de vender e apesar das novas medidas me colocarem algum receio,estou certo de que vai correr tudo muito bem em Espanha e Portugal e daqui a dois anos já estaremos num panorama melhor...
JS – Uma mensagem para os jovens que ainda ponderam ser empreendedores...
MPM – Acima de tudo, arrisquem! Vale a pena arriscar, temos um mercado pequeno e dinâmico, não estamos assim tão mal como por vezes se diz por aí! Vale a pena arriscar, a pessoa dá uma volta na vida... para mim é como se fosse fim-de-semana todos os dias porque vou trabalhar com todo o gosto, o que é diferente de quando se trabalha por conta de outrém! Tenho uma realização pessoal fantástica!
As pessoas que tiverem ideias, boas ideias e ideias um bocadinho diferentes – porque o mercado está saturado daquilo que é igual – arrisquem! Nunca fui rico, os meus pais nunca foram ricos e não fui ao BES (risos). Eu próprio meti capital de mil euros numa empresa com 50 mil euros de capital social, ou seja, hoje em dia não é preciso ser-se rico para se ter uma empresa, mas ter boas ideias e muita vontade
de trabalhar, não ser daqueles que deitam a toalha ao chão à primeira ou segunda barreira.
Jornal do Seixal, Maio de 2010