1.4.07

Cinema Paris
UM FILME DE TERROR

Considerado “o amplo, o mais confortável e de maior lotação de todos os cinemas em Lisboa" em dias de inauguração, o Cinema Paris viveu tempos de ouro, acolheu famílias, amigos e namoricos de todas as classes sociais, serviu de palco a histórias de amor, de guerra, de ficção e de mudez mas pouco a pouco ele próprio se calou e as vozes que o defendiam tornaram-se surdas para quem ainda pode fazer qualquer coisa para o salvar.

Por sofrer perigo de derrocada deu-se ordem para a sua demolição mas como que tocado por uma varinha de condão milagrosa, logo se suspendeu essa ideia.
Hoje, o Cinema continua fiel a si próprio, mantém o “Paris” em néon, a cor amarelada, acolhe não gente mas pombos e gatos e o filme de “suspense” mantém os seus espectadores agarrados às cadeiras: “o que é que vai sair daqui”?

Inserido na área de protecção da Basílica da Estrela, na rua Domingos Sequeira, no eixo Estrela-Campo de Ourique, o Cinema Paris encontra-se em avançado estado de degradação, a sala de cinema está devoluta e emparedada há cerca de 20 anos e a infra-estrutura sofre perigo de derrocada.

Uma vistoria realizada por técnicos da autarquia, em Setembro de 2002, determinou a urgência de demolição do imóvel face ao risco que o mesmo constituía para a segurança dos cidadãos, havendo o risco de aluimento de tectos e de desagregação da fachada.

No dia 7 de Janeiro de 2003, a notícia fez manchete em diversos jornais nacionais, o proprietário Martins Freitas não mostrava interesse em reabilitar o imóvel e por isso foi intimado pela Câmara Municipal de Lisboa a proceder à sua derribada. Dois dias depois, pareceres do Instituto Português do Património Arquitectónico – IPPAR, desaconselharam a demolição total do imóvel, apontando como preferível a sua manutenção, ainda que parcial, “garantindo a coerência urbana do conjunto envolvente ao monumento nacional da Basílica da Estrela”.

Santana Lopes, que era na altura presidente da CML, optou por suspender a demolição “porque optou por conservar o imóvel para um espaço cultural”, explicou Marta Moreira, assessora do gabinete do presidente nas áreas de Planeamento, Urbanismo e Reabilitação ao Jornal do Bairro.

Negociações em “águas de bacalhau”

Desde que a ordem de demolição foi suspensa, muito foi prometido fazer para garantir a preservação do espaço.

Falou-se na possibilidade de chegar a um acordo com o proprietário através de permuta com outros terrenos, sendo que a troca poderia ser feita por um terreno Municipal junto ao quartel dos Bombeiros de Campo de Ourique.

Sugeriu-se que o Município estiva interessado em recuperar o edifício e convertê-lo num teatro ou num hotel.

Salientou-se a existência de um grupo artístico do Norte interessado na sua exploração.

Apesar de tudo o que foi dito, “qualquer solução para o local deverá passar pela sua reabilitação enquanto espaço cultural” e isso não deverá estar para breve, pois ao contrário dos rios de tinta impressa, “a CML nunca chegou a acordo com os proprietários em relação a uma permuta”, declarou Marta Moreira.

O impasse de anos na negociação entre os proprietários e a autarquia ameaça a segurança das pessoas e bens e garantia há apenas uma: a de que o Paris caiu no esquecimento das pessoas pouco depois do 25 de Abril e a contestação só surgiu na última década, altura em que a degradação do espaço se tornou mais notória.

O Cinema Paris foi inaugurado a 15 de Maio de 1931 pelo empresário Vítor A. da Cunha Rosa mas cerca de quatro décadas depois, já a casa de espectáculos entrava em declínio, acabando por fechar. Foi já abandonado que o Cinema Paris serviu de cenário para o filme "Lisbon Story" de Wim Wenders, em 1994.

Jornal do Bairro, edição nº 4, 16 Março 2007