Cinema Paris
UM FILME DE TERROR
Por sofrer perigo de derrocada deu-se ordem para a sua demolição mas como que tocado por uma varinha de condão milagrosa, logo se suspendeu essa ideia.
Hoje, o Cinema continua fiel a si próprio, mantém o “Paris” em néon, a cor amarelada, acolhe não gente mas pombos e gatos e o filme de “suspense” mantém os seus espectadores agarrados às cadeiras: “o que é que vai sair daqui”?
Uma vistoria realizada por técnicos da autarquia, em Setembro de 2002, determinou a urgência de demolição do imóvel face ao risco que o mesmo constituía para a segurança dos cidadãos, havendo o risco de aluimento de tectos e de desagregação da fachada.
No dia 7 de Janeiro de 2003, a notícia fez manchete em diversos jornais nacionais, o proprietário Martins Freitas não mostrava interesse em reabilitar o imóvel e por isso foi intimado pela Câmara Municipal de Lisboa a proceder à sua derribada. Dois dias depois, pareceres do Instituto Português do Património Arquitectónico – IPPAR, desaconselharam a demolição total do imóvel, apontando como preferível a sua manutenção, ainda que parcial, “garantindo a coerência urbana do conjunto envolvente ao monumento nacional da Basílica da Estrela”.
Santana Lopes, que era na altura presidente da CML, optou por suspender a demolição “porque optou por conservar o imóvel para um espaço cultural”, explicou Marta Moreira, assessora do gabinete do presidente nas áreas de Planeamento, Urbanismo e Reabilitação ao Jornal do Bairro.
Falou-se na possibilidade de chegar a um acordo com o proprietário através de permuta com outros terrenos, sendo que a troca poderia ser feita por um terreno Municipal junto ao quartel dos Bombeiros de Campo de Ourique.
Sugeriu-se que o Município estiva interessado em recuperar o edifício e convertê-lo num teatro ou num hotel.
Salientou-se a existência de um grupo artístico do Norte interessado na sua exploração.
Apesar de tudo o que foi dito, “qualquer solução para o local deverá passar pela sua reabilitação enquanto espaço cultural” e isso não deverá estar para breve, pois ao contrário dos rios de tinta impressa, “a CML nunca chegou a acordo com os proprietários em relação a uma permuta”, declarou Marta Moreira.
O impasse de anos na negociação entre os proprietários e a autarquia ameaça a segurança das pessoas e bens e garantia há apenas uma: a de que o Paris caiu no esquecimento das pessoas pouco depois do 25 de Abril e a contestação só surgiu na última década, altura em que a degradação do espaço se tornou mais notória.
Jornal do Bairro, edição nº 4, 16 Março 2007