21.3.10

O DIA EM QUE O LIXO SUCUMBIU

Entulhos, colchões, electrodomésticos, carcaças de árvores... no Dia L, muitos voluntários resistiram à chuva e foram limpar a praia da Ponta dos Corvos, no Seixal.



De olhos postos no Cristo que se avista e na ponte que foge para a Capital, muitos continuam a ter a Ponta dos Corvos como predilecta para um mergulho em tempos de época balnear.

Famosa por servir a delícia dos ‘tesos’, que se banham em frente a placas que alertam para a má qualidade das águas e avisos de interdição, a Ponta dos Corvos foi já rainha e senhora da seca do bacalhau. Em dias de maré baixa, banhistas e apanhadores de lamejinha misturam-se, uns para garantir o seu sustento, outros para se bronzear.

Sem conflitos de maior, por vezes puxam a toalha para um espaço mais distante das lixeiras que se instistem amontoar em plena praia.

Foi para contraiar a ideia de que depositar o lixo a céu aberto “é normal” que o grupo da freguesia de Corroios optou por limpar esse tão delicado espaço.

O Dia L, de ‘Limpar Portugal’, iniciou cinzento, mas nem a lama ou a chuva demoveram as dezenas de voluntários decididos a marcar a diferença. Aos poucos, quilos e quilos de lixo empilhado sucumbiram e ao final da manhã já o sol raiava, iluminando o rosto dos madrugadores que limparam a sua praia.

20 de Março ficará na memória dos que iniciaram a labuta debaixo de chuva e a terminaram saudados por um intenso aroma a maresia.

Para trás ficaram as lamejinhas, o areal, os passos escondidos de cada criminoso que ali depositou o seu lixo durante a noite. Ficou a consciência para uns, o remorso para outros e o fechar de olhos para aqueles que depois da limpeza irão, decerto, voltar a sujar Portugal...

Improvável, Março 2010