26.3.07

Tripa Mijona
“É SÓ DIZER PERLIMPIMPIM”

Mulheres esplendorosas em biquini? Apitos? Carros alegóricos munidos de espingardas de água para molhar o público? Rainhas e vedetas?
Não!

As “Tripa Mijona” são autênticas senhoras da percussão tocada por completo em português. Assumem-se como o único grupo de “axê” constituído apenas por mulheres no país e talvez em todo o Mundo e não querem ser reconhecidas pelas suas formas físicas mas pelo seu mérito e talento. Um conjunto enérgico e com categoria a não perder em Sesimbra. No feminino.


Sesimbra é um dos destinos eleitos por muitas famílias e grupos de amigos para assistir, participar e brincar ao Carnaval.

Para além da folia nocturna, dos inúmeros mascarados, das guerras de balões e dos bailaricos, as festas do Entrudo são planeadas com muita antecedência, com muita azáfama e com muito amor. A solidariedade carnavalesca que existe entre as gentes da Vila foram visíveis na noite em que o Nova Morada se deslocou até ao armazém de localização desconhecida onde as “Tripa” ensaiavam... todos os inquiridos souberam explicar onde decorriam os treinos, todos se mostraram interessados por colaborar e mais curioso ainda, todos acrescentaram que “esta noite elas estão a ensaiar”. O motivo para tal reputação pode estar relacionado com o ruído dos batuques que ecoavam na noite de Sesimbra, mas também ficou claro que as “Mijona” são um orgulho para os “pexitos”.

Foi entre períodos mais silenciosos e estridentes que conseguimos entrevistar Paulo Guerra, um dos dirigentes do grupo e Eloísa Santos, a escritora do enredo.

Qual é a tua missão no meio de todas estas mulheres?
Paulo Guerra – Eu ajudo um pouco na aprendizagem dos toques e na elaboração da letra. Colaboro no que for possível, em conjunto com o Apolónio Alves que é o mestre da bateria.

Ao contrário do que muitos poderão pensar, a Tripa está mais relacionada com a percussão do que com o samba...
PG – Sim, tocamos ao ritmo “axê” que é um ritmo típico da Bahia que mistura um pouco do samba com o batuque africano e para além da percussão também é acompanhado por cavaquinho e vozes.

Quando é que fundaram as “Mijona”?
PG – Foi em 2003, mas o primeiro ano de desfile foi em 2004.

Como nasceu a ideia?
PG – Nasceu de um projecto que pertence à “Tripa Cagueira”, que foi fundada em 1996. No início tínhamos muitas pessoas do sexo feminino que queriam participar mas o grupo é só de homens, essa foi uma das nossas regras iniciais. Como os pedidos das mulheres foram tantos decidimos criar um projecto só para elas.

Porquê “Tripa Mijona”?
PG – Foi uma brincadeira! Não tínhamos nome para dar e já que nós éramos os “Tripa Cagueira” elas, como eram raparigas, ficaram as “Tripa Mijona”... Foi um nome escolhido na brincadeira mas para as manter associadas à nossa actividade.

É verdade que este é o único grupo do género em Portugal apenas constituído por mulheres?
PG – Eu digo de Portugal e aposto que até de fora do Brasil o seja em todo o Mundo. È um pouco difícil de confirmar porque não conhecemos o Carnaval de todos os outros países... em Portugal, tal como a “Tripa Cagueira” é o único grupo constituído apenas por homens, o “Tripa Mijona” é aquele que é só de mulheres!

E as nacionalidades? Existem aqui brasileiras e portuguesas?
PG – Só portuguesas!

Contaram com alguma vedeta para ser Rainha de Carnaval ou não?
PG - Não! O Carnaval de Sesimbra não dá nome a vedetas, aqui as vedetas somos todos nós!

Fala-me sobre o enredo que escreveste para este Carnaval...
Eloísa Santos - Este enredo refere-se ao “Sítio do Picapau Amarelo”, uma história criada pelo Monteiro Lobato, no Brasil. Acho este conto infantil muito interessante, porque até os mais antigos o conhecem... É uma história muito bonita e a boneca Emília, que era quem mais caracterizava o tema, foi aquela em nos retratámos!

Quanto tempo demoraste a escrevê-lo?
ES - Cerca de um mês, precisámos de muita pesquisa para não errar em nada...

Este é o quarto ano em que fazem um espectáculo...
ES - Sim, no primeiro ano foi apenas batucada e a partir do segundo já houve canção e tema...

Para além de ti, quem tem vindo a escrever os enredos?
ES - No primeiro ano foram o Paulo Guerra e o Apolónio, com a nossa ajuda, no segundo ano fui eu mais quatro amigas e este ano fui eu sozinha...

Fazes parte das primeiras “batuqueiras” do grupo?
ES - Sim e já há muito tempo que os chateava para fundarem os “Tripa Mijona”...

Vocês foram divulgadas por uma estação de televisão nacional como um grupo constituído por cerca de duas centenas de mulheres. Houveram baldas esta noite?
ES - Não! Este ano somos 57 e é o ano em que temos mais pessoas! Rondamos sempre as 50, 51 ou 52, dos 3 aos 50 anos!

As mulheres mais velhas têm mais dificuldade em aprender?
ES - Claro que não, a dificuldade é igual!

Quantas vezes ensaiam por semana?
São três vezes, quartas, sábados e domingos.

E desde quando é que andam em “treinos”?
ES - Desde Outubro, Novembro... tivémos de pôr as ideias em cima da mesa, discutir o tema, elaborar e construir a letra e ensaiar...

Sendo este um grupo feminino o que tens a dizer quanto ao facto de ser o Paulo a dirigir os “Tripa Mijona”?
ES - Acho bem, uma vez que estamos associadas a eles... Além disso, até à data não houve ninguém do sexo feminino que elaborasse um trabalho como o do Paulo, por isso concordo. No dia em que surgir uma mulher, ele é posto de lado (risos)...
Num evento destes é imprescindível o apoio masculino... O Apolónio é a pessoa indicada para nos ajudar e até à data ainda não apareceu uma mulher com capacidade para nos encaminhar nesta tarefa. Para além disso, o que nós sabemos, aprendemos com eles!

Já têm projectos para depois da época do Carnaval?
ES - Podemos vir a ser contactadas para alguns espectáculos mas até à data ainda não agendámos nada, apenas o desfile de Verão!

Nova Morada, edição nº 315, 16 Fevereiro 2007