27.9.07

Bairro da Liberdade
VOTADO AO ABANDONO E REFÉM DA DEGRADAÇÃO
  • Plano que previa para 2005 a demolição das casas devolutas, no problemático bairro de Campolide, continua por executar
  • Junta de Freguesia condena passividade das autoridades e diz que situação é um "atentado à saúde pública"

“Em estudo”, assim vai o processo que previa a demolição das casas devolutas no Bairro da Liberdade, na Freguesia de Campolide, para 2005.
Apesar da Câmara Municipal de Lisboa (CML) ter a acção prevista para acontecer há dois anos, os moradores continuam a viver paredes-meias com a degradação e a duvidar de um breve e cobiçado “final feliz” para a deterioração que é visível no local.

Foi em 2001 que diversos residentes no Bairro da Liberdade foram realojados e as respectivas casas votadas ao abandono e desde então utilizadas como lixeira. A Junta de Freguesia de Campolide e os habitantes em redor vêm reclamando a demolição dessas infra-estruturas, que são “um atentado à saúde pública”, conforme declarou Carlos Carvalho, vereador da Habitação e Equipamentos da Junta de Freguesia de Campolide.

Desde o mandato de João Soares como presidente da CML que muitos dos habitantes que viviam em frente à Igreja de São Vicente Paulo passaram para os edifícios laterais, mas a demolição das casas antigas tem vindo a ser adiada.

Volvidos alguns anos em compasso de espera, a Junta de Freguesia reuniu um conjunto de orçamentos para assumir a obra e respectivas despesas. Feitas as contas, 23 mil euros mais iva foi o melhor valor proposto para a empreitada, que chegou a ser adjudicada mas que no início do mês de Agosto contou com a nega do Município, que em 2005 foi encarregue de demolir as casas em piores condições, o que não terá sido feito “por falta de verba”, avançou Carlos Carvalho.

Sem confirmar ou desmentir quaisquer motivos ou valores, Jorge Súbtil, director do departamento da Direcção Municipal de Habitação da CML, avançou que a situação “está em estudo” e que mais não pode acrescentar.

Ratos espantam clientela…

O Bairro da Liberdade mantém as características tradicionais de outras áreas alfacinhas.

O cheiro a sardinha assada, a população sentada em bancos e degraus, junto às portas de entrada das casas de um e dois pisos, as ruas estreitas onde ainda se dão os bons dias…

Os prédios junto à Igreja de São Vicente Paulo trouxeram um ambiente mais urbano ao local, mas a memória do antigamente perpetua no espaço. É ao olhar para essa zona, rasteira aos arcos do Aqueduto das Águas Livres, que a degradação é visível. As casas desabitadas pelos humanos foram ocupadas por todo o género de bicharada, “cuidado aí”, gritou Maria Adelaide, proprietária do café Tê, que alertou para o perigo de entrar de sandálias numa das casas e contestou o lixo existente no local.

“Nunca mais deitam isto abaixo”, lamentaram os presentes que de repente se uniram ao protesto e apontaram o entulho amontoado nas casas cujas portas e janelas jazem em parte incerta. Há muito que os moradores apelam para que as habitações degradadas vão abaixo e Maria Amélia afirmou mesmo que já perdeu clientela devido ao cheiro nauseabundo e aos ratos que por vezes saem dos edifícios.

Na ocasião das Eleições Intercalares para a Câmara de Lisboa, muitos dos residentes apelaram ao boicote e colocaram diversas faixas nas janelas, “ai ai ai!!! Quem é que nos acode?”, “gostava você de morar aqui???” ou “nós temos direito a uma escola aqui no Bairro”. Mas a rotina persiste e os moradores tendem a resignar-se, “há tanto tempo que nos manifestamos e isto nunca dá em nada”, lamentou Maria Adelaide. Na opinião de Carlos Carvalho, a elevada taxa de abstenção nas Eleições tornou o protesto destes bairristas “pouco significativo”, restando aos moradores aguardar por uma resposta que já passou por várias mãos e que agora depende da Câmara Municipal.

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“Vão nascer cinco prédios”

O Plano de Pormenor para o Bairro da Liberdade demorou cerca de dois anos a preparar, saiu aprovado com o parecer desfavorável do PS, CDS/PP e Bloco de Esquerda e aguarda desde o início do ano o aval positivo ditado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT).

Projectado por Carmona Rodrigues, o Plano prevê a construção de cinco prédios no espaço onde as casas serão demolidas.

Segundo Carlos Carvalho, o processo de demolição aguarda uma decisão Camarária que poderá mesmo passar pela cedência da obra à Junta. Para além de aguardar resposta da CML, o executivo de Campolide mantém-se ainda em conversações com o herdeiro de uma das casas que deverá ir abaixo, pois a sua intenção é fazer uma limpeza no local e emparedá-la, mas a residência, em princípio, não terá “possibilidades de reabilitação”.

Jornal de Notícias, 25 Setembro 2007