ÓLEO DE FÍGADO DE TUBARÃO
Tratado em Sesimbra para utilizar em motores de aviões
Manuel José Pólvora – Eu era estudante, o meu pai teve um pequeno problema na cabeça e não podia perder noites. Quando cheguei a casa estavam a falar sobre vender o barco, que ainda nem estava pago, não havia alternativa... O meu pai não tinha nada, era um homem novo e eu decidi que o ia ajudar. Tinha na altura 14 anos, deixei a escola e fui para o mar.
Manuel José Pólvora – Sim, sou proprietário de 3 empresas e na Artesanalpesca sou proprietário em partes, pois funciona como uma cooperativa de armadores de pesca.
Manuel José Pólvora – Foi no dia 13 de Janeiro de 1985. Nesse dia tive um barco que foi ao fundo nas Canárias, chamava-se “Juventude do Mar”. Cheguei a terra sem barco, sem nada. Entretanto apareceu um rapaz que conhecia a actividade de fazer óleo de tubarão. Eu tinha um armazém e ele disse-me que esse espaço era bom para fazer o óleo. Como fiquei sem o barco, comecei a trabalhar como comprador de peixe. A apanha dos tubarões já era uma tradição antiga e feita pelos homens que pescavam o peixe-espada preto e comecei a fazer o óleo. Fui evoluindo, consegui fazer máquinas maiores e criar uma empresa, que é a Varoleo.
Manuel José Pólvora – Sim, porque sou conhecido por salto à vara, salto à vara, Varoleo...
Na altura o tubarão não era aproveitado, apenas o fígado. Hoje em dia aproveitamos todo o peixe, para isso criei uma outra empresa, a Quivaricação, que compra o peixe, esfola-o, comercializa-o e vende os fígados à Varoleo que faz então o óleo.
Neste momento devo ser o único no país que consegue fazer tudo sozinho desde a captura à venda. A empresa Manuel Sé, em nome individual, é a primeira, que já teve três barcos mas neste momento tem apenas um, o “Mar e Pesca” que se dedica inteiramente à pesca do tubarão.
A Quivaricação tem um contrato com o “Mar e Pesca” para que o nosso peixe não seja efectivo na lota. A produção do “Mar e Pesca” é comprado pela Quivaricação o ano inteiro a um preço fixo.
Temos 6 empregados que esfolam o peixe, tiram-lhe a pele, o fígado e limpam-no. O fígado é colocado em bidões de 200 litros e vendido. O peixe segue então para a Makro, para a Artesanalpesca, para o Pingo Doce, para congelar...
Manuel José Pólvora – Sim, vende-se muito! É bom para as caldeiradas, para o arroz e para várias coisas, há muita gente que gosta de comer tubarão ...
Manuel José Pólvora – A Varoleo tem uma “fabriqueta” que é uma sociedade minha com um engenheiro químico. Começámos por fazer óleo e neste momento fazemos o que os japoneses também fazem, destilamos e hidrogenamos e vendemos para o mercado europeu e Japão.
Manuel José Pólvora – Já vendemos mais para o Japão, quando era óleo em bruto. Agora que já conseguimos fazer a destilação e a hidrogenação a venda é 50/ 50.
Manuel José Pólvora – O barco apanha cerca de 10 a 12 toneladas por cada viagem, quando está bom tempo chega a fazer 3 viagens por mês. Capturamos cerca de 300 toneladas anuais, o que corresponde a 200, 300 bidões de óleo tratado.
Manuel José Pólvora – Não posso explicar a cem por cento, mas vou dar uma ideia... o fígado é retirado do peixe e vai para uma panela, um caldeirão grande com tubos de água aquecida, tipo um esquentador, em que o fígado é derretido. O óleo e os desperdícios vão para fora. O óleo em bruto, que cheira mal, vai ser destilado e para hidrogenar tem de passar por duas destilações e ficar a mais de 99, praticamente cem por cento. Depois é hidrogenado, filtrado e fica incolor e sem cheiro, como a àgua. Esse óleo é utilizado pela cosmética, pela perfumaria, uma parte serve para fazer cápsulas para o estômago, os japoneses utilizam-no muito para medicamentos, antes de ser hidrogenado...
Manuel José Pólvora – Apesar da maior parte seguir para a cosmética, este é um óleo que só congela a mais de 50ºc. negativos e por isso serve para os motores, tal como o óleo sintético. Por exemplo, mesmo que os aviões estejam elevados a temperaturas negativas, este óleo não congela...
Manuel José Pólvora – Não sou muito técnico, mas penso que sim, porque este óleo tem muita procura. Hoje em dia já se procura o óleo vegetal, que também fazemos, mas este não vem do mar e óleo animal é sempre óleo animal...
Manuel José Pólvora – É melhor, por ser de origem animal. O vegetal é procurado porque os americanos impuseram restrições ao peixe de profundidade e agora começou a procura ao óelo vegetal, mas este não chega.
Manuel José Pólvora – Sim, está a ser protegido e quando um produto está a dar mais lucro, há uma tendência para todos se dirigirem para o mesmo. Quando isso acontece, não vale muito dinheiro, por existir em excesso. Mais vale cortar... O tubarão é um peixe que demora a procriar e tudo isto pode ser mau para a minha actividade. O óleo é um produto como a bolsa, tanto vale dinheiro como desce. Depende da procura, se todos se dirigirem a esta pesca o preço cai e aí ninguém o vê como opção e o custo da matéria prima volta a subir.
Manuel José Pólvora – Tubarão lixa e carocho, que existe em toda a nossa costa. Junto do peixe-espada preto e um bocado mais fundo estão os tubarões de profundidade.
Nova Morada – A Varoleo é a única empresa nacional com esta actividade?
Manuel José Pólvora – Em Portugal há uma empresa que faz exactamente o mesmo que nós e em Espanha há duas, mas uma não faz hidrogenação.
Manuel José Pólvora – Comercializar o produto final não, porque isso é feito para uma Loreal, uma Avon... Na América fazem muito o squalane, este produto quando não é hidrogenado chama-se squalene.