“UM AMOR A FLORIR NA TAPADA…”
Um amor abençoado pelo Santo mais acarinhado da Capital e apadrinhado pelos fadistas Anita Guerreiro e Gonçalo da Câmara Pereira.
Luís – Há cerca de 3 anos e uns trocos quantos. Não me recordo bem da data…
Carla – Conhecemo-nos há mais de 3 anos, mas houve um largo período de tempo em que não tivemos contacto.
Carla – Não, de forma alguma…
Luís - Não, não foi! Conhecemo-nos numa acção de formação dos Bombeiros e mais tarde a Carla, que é enfermeira, foi supervisionar uma outra formação. Eu, como responsável do centro, tenho de manter os contactos actualizados. A primeira abordagem foi pedir-lhe o número de telefone.
Carla – Sim, gerou-se uma troca de olhares e um impasse em ver qual seguia em frente…
Luís – Pois, mas eu como responsável não podia avançar assim e pedir logo o número de telefone!
Carla – Penso que um casamento só vale a pena se cumprir uma tradição e esta é muito bonita, inclui os Santos Populares e o Santo casamenteiro. Foi por isso que decidi que me podia juntar, mas casar só se fosse pelas noivas de Santo António!
Luís – O ano passado a Carla estimulou a ideia, mas talvez por culpa minha não houve aquela rapidez em saber quando... esta iniciativa é pouco divulgada e funciona num espaço de tempo bastante curto. Temos cerca de dez dias para iniciar e concluir o processo e é uma marcação cerrada. Como não ligava todos os dias para a sede em Campo Grande, um dia telefonei e só já tinha 5 dias, ou seja, os casamentos estavam na iminência de fechar! Foi com o grande esforço de uma funcionária da Junta de Freguesia de Alvor – onde a Carla está recenseada - que conseguimos reunir toda a documentação.
Luís – Estes casamentos têm algo de inédito e há outras coisas que para mim são mais importantes. Para começar é a confraternização entre os diversos noivos e já dei o primeiro passo para perpetuar, de certa forma, o contacto com os restantes casais. Quando estivemos em Belém, por exemplo, tivemos a possibilidade de conhecer uma das primeiras noivas de Santo António, do ano de ’58.
Carla – Ao contrário dos outros anos, desta vez as coisas aconteceram mais tarde. As actividades existem da mesma forma, mas são mais rápidas e cansativas. Nem todas as pessoas têm a mesma profissão e pode tornar-se complicado conseguir uma disponibilidade de tempo, eu tenho alguma facilidade em trocar o horário, mas mesmo assim também tenho de assegurar os cuidados mínimos. Hoje por exemplo, tenho cabeleireiro e não posso faltar, mas em circunstâncias normais ninguém iria compensar-me porque tenho cabeleireiro. Tenho de frisar que tenho bons colegas de trabalho!
Carla – Desta vez não há estilista, mas posso avançar que houve uma loja que nos ofereceu os vestidos. Dentro de uma gama enorme podíamos escolher dois e depois um. Como não gosto de complicar escolhi o primeiro que me agradou. E é como digo, pode sempre ser utilizado para o próximo casamento…
Carla - Talvez, porque agora casamos pelo civil e mais tarde podemos vir a casar pela Igreja. São 11 noivos católicos e nós pertencemos aos 5 do civil. Enquanto a cerimónia dos católicos é na Sé Catedral, o nosso vai ser no Museu da Cidade. É um espaço lindíssimo que não conheço mas que por aquilo que vi vai fazer deste um casamento de sonho, como nos filmes, com a relva, as cadeirinhas, a tenda…
Luís – Aliás, penso que esta é uma questão que se decide num sorteio. Perguntaram-nos se fazíamos questão ou muita questão de casar pelo católico e nós explicámos que gostávamos de fazer parte das cerimónias dos noivos de Santo António, se fosse pela Igreja, melhor, mas não era uma questão fundamental.
Carla – A única diferença é só mesmo o espaço onde se realiza a cerimónia, porque até à data não nos considerámos sequer colocados de parte! Para além disso, o Museu da Cidade é lindo e vai ser mais calmo! Cada pessoa pode levar 10 convidados e temos a vantagem de podermos partilhar parte do momento com a família e meia dúzia de repórteres, enquanto na Sé vai estar a Cidade inteira! As pessoas mais antigas e habituadas à tradição vão estar ali, querem-nos felicitar, as televisões vão-nos perseguir…
Luís – Para além disso temos a expectativa de vir a casar pela Igreja, até existe um casal de noivos que se casou há 4 anos! Equacionamos isso e espero que se concretize!
Carla – Ainda não sabemos, mas por questões de trabalho do Luís em princípio não vamos ter lua-de-mel. Eu já tinha uma viagem prevista com a família e tínhamos decidido que ele ficava a tomar conta dos nossos meninos!
Luís – Exactamente!
Carla – Temos dois gatos, um casal de caturras, dois piriquitos, um casal de canários, um pintassilgo e um pastor alemão, que é o Gil! Ainda nos faltam os peixes, mas já temos o aquário!
Carla – Não, vamos viver para Rio de Mouro!
Luís – Começámos por procurar casas em Lisboa, e não me refiro a baratas mas a compatíveis ao nosso bolso, mas não conseguimos! Cheguei a enviar cartas para a Câmara Municipal, a frisar que fui bombeiro voluntário em Lisboa - agora estou
Note-se que optámos por Rio de Mouro por se esgotarem todas as hipóteses de ficar por aqui. Podíamos sim ficar com uma casa, mas com as mobílias na rua…
Carla – Tendo em conta o nosso zoológico não ia dar!
Luís – Nós temos em comum o facto de guardar muita tralha, eu tenho as minhas fardas todas guardadas…
Carla – E eu até tenho os meus primeiros sapatos num expositor!
Luís – Esta casa na Rinchoa é um duplex com 5 assoalhadas, tem um terraço enorme, um sótão, enfim… tem o espaço suficiente para termos as nossas coisas!
Luís – Para já não, mas também não vamos demorar muito, por razões óbvias! Temos de fazer tudo a seu tempo, com cabeça, tronco e membros…
Luís – Respeito muito as tradições, as crenças e o Santo António como casamenteiro, mas depende de nós e da nossa atitude fazer com que a relação funcione!
Carla – Posso dizer que espero que nos dê uma ajudinha, penso que as zangas e as reconciliações são essenciais, porque um casal sem zangas não vive feliz! Dentro das zangas espero que o Santo dê uma ajudinha extra!
Luís – Penso que nós dois conseguimos colaborar nesse sentido e vir a comemorar as bodas de prata e quem sabe no futuro vir a partilhar aquilo que vivemos com gerações diferentes! Falo apenas nos 25 anos, as bodas de ouro já deve ser mais complicado…
Carla – E nem é por questões de saúde mas de ambiente! Preocupo-me muito e tenho os meus receios…
Luís – Olhemos todos para o problema da água!
Carla – Nós batemos recordes de poupança de água e de luz! Não por motivos financeiros mas de ambiente, temos de nos questionar se vale ou não a pena acender uma luz, desperdiçar água…
Luís – Penso que virmos a comemorar as nossas bodas de prata com alguma qualidade de vida prende-se com o trabalho de todos nós!
Jornal do Bairro, edição nº 10, 8 Junho 2007