1.4.07

Ermida da Cruz das Almas
UM SANTUÁRIO VEDADO AOS VIVOS

Imponente mas quase “invisível” e desbotado entre a fachada luminosa de uma farmácia e de muitos outros espaços comerciais, o sino da Ermida da Cruz das Almas, na Rua de Campolide parece ter emudecido há largas dezenas de anos e é em silêncio que promete continuar.

Construída no século XVIII, “nos tempos do Marquês de Pombal tal como todos os prédios aqui” conforme explicou um morador ao Jornal do Bairro, a Ermida da Cruz das Almas já foi motivo de disputa entre católicos e membros de outras confissões religiosas, mas agora serve apenas a solidão!

“A Capela chegou a ser alugada por 1$00 à Igreja de Santo António de Campolide”, facto esse confirmado por Filomena, do cartório da infra-estrutura Paroquial.

Esse escudo, na moeda antiga, “era um valor simbólico que se pagava na intenção de não deixar a Capela nas mãos dos Manás”, mas ao que tudo indica, os próprios católicos tiveram dificuldades em tomar conta da situação.

A Ermida ostenta uma cruz que se ergue no seu topo e um sino que ladeia o néon indicativo de uma farmácia, mas está encerrada e esquecida, talvez por se tratar de propriedade privada...

Apesar da Capela constar no Inventário Municipal do Património, pertencendo ao conjunto de edifícios com interesse histórico e arquitectónico da capital e que por isso, de acordo com o artigo 13º, deveria ser “objecto de normas de intervenção nos Planos de Urbanização e de Pormenor e nos actos de gestão urbanística”, não tem obras destinadas. O arquitecto do gabinete de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa que está responsável “pelos processos que os particulares põem à sua responsabilidade” em relação a este espaço, avançou ao Jornal do Bairro que desde 2003 não existem pedidos para avançar com quaisquer trabalhos.

“A Capela não tem electricidade, água nem casas de banho e sempre a conheci fechada” esclareceu um freguês.

Segundo a revista Campolide, propriedade da Junta de Freguesia, o interior da Ermida “possui um rodapé de azulejos do Rato, a três cores, com composições alegóricas, tecto estucado e também com pinturas alegóricas. No altar, uma interessante escultura de Cristo em Marfim, ladeado por imagens de Santa. Teresa e de São Domingos. Ao fundo, um retábulo de Nossa Senhora da Conceição e sobre a pedra da Ara uma maquineta com a cabeça de Cristo coroada de espinhos. Tem ainda um púlpito e um pequeno coro. Na sacristia existe ligação com a casa solarenga que terá pertencido aos Cadavais”.

Os vizinhos abordados nunca ouviram o sino tocar nem se recordam de ali terem assistido a cerimónias religiosas, apenas alguns a visitaram há vários anos atrás! Não só o presente como também o futuro desta Ermida é incerto sendo que não foi possível contactar os seus proprietários até ao fecho desta edição.

Situada em frente da Junta de Freguesia de Campolide, a Capela mantém-se firme, o sino pendurado e a Cruz mais próxima das almas que por ali possam pairar…

Jornal do Bairro, Edição 5, 30 Março 2007