19.5.08

Bombeiros Voluntários
NOVO QUARTEL EM VIAS DE CONSTRUÇÃO

Cinco anos após a aprovação do projecto, o Quartel dos Bombeiros Voluntários da Quinta do Conde vai finalmente entrar em obras. Os contentores provisórios que ali estão instalados, de forma provisória, há cerca de 15 anos, vão dar lugar uma sede moderna e atractiva.

Fernando Gato preside a direcção dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra há 11 anos, foi Comandante durante 23 e começou a carreira como aspirante, pouco antes de cumprir as 20 primaveras. Acedeu a falar ao Condense sobre as aspirações que o levaram a pertencer a uma corporação de Soldados da Paz que se destaca pela diferença e mostrou-se tranquilo em relação à época de fogos florestais que se aproxima. “Estamos preparados”, declarou.

O senhor Fernando Gato tem vindo a reinvindicar, publicamente, melhores condições para o Quartel na Quinta do Conde. Quais são as principais carências do espaço?
Nós estamos a utilizar umas instalações feitas em contentores. Ali funcionam serviços administrativos, há uma camarata feminina, outra masculina, tem uma sala polivalente para a secção de Saúde, uma espécie de bar para entretenimento e uma cozinha para os Bombeiros confeccionarem as suas refeições. Temos uma sede provisória que ali está há 14, 15 anos...

Quais são os meios que têm ao serviço da população da Quinta do Conde?
Temos 10 pessoas a trabalhar diariamente. Viaturas estão lá várias, mas as ambulâncias e os carros de fogo totalizam 13.

Passados anos de insistência, já conseguiram a aprovação do projecto de ampliação?
Apesar de termos o projecto de há 5 anos aprovado, ainda não tínhamos conseguido ir mais além e bati a todas as portas, Governo Civil, secretário de Estado, Câmara de Sesimbra...
Agora, parece que se avistou a luz ao fundo do túnel, com uns dinheiros Comunitários e em princípio a coisa vai avançar.

No que é que consiste o projecto?
Vamos construir um Quartel de Bombeiros com ‘parque-out’, instalações administrativas e tudo o que necessita. Vai ser um pouco mais pequeno do que este (o de Sesimbra) mas com o objectivo de mais tarde poder vir a ser ampliado. O local é o mesmo, porque o terreno é nosso.

Qual a previsão para o início das obras?
Queremos ver se começamos este ano ainda, após o Verão. A Câmara Municipal já disponibilizou uma verba de cerca de 7, 8 mil contos neste orçamento precisamente para isso.
Existe uma situação que me choca bastante, que é o de não ter qualquer apoio por parte da Quinta do Conde. Eu quero o melhor para a Quinta do Conde e não a diferencio de Sesimbra, mas o apoio da Junta de Freguesia tem sido muito precário. O ano passado deram-nos penso que 30 contos (150 euros) de subsídio, o que não é suficiente. Estamos sem vias de iniciar uma campanha para recolha de fundos.

Para quando a conclusão do novo Quartel?
No início de 2009 tem de estar pronto. Como vamos ter eleições, tanto faz Autárquicas como Legislativas, o processo acelera.

Em que valor está orçada a obra?
Há 5 anos custava 74 mil contos, mas com a inflação não sei quanto é que pode vir a custar...

Em que medida é que as restantes Juntas do Concelho apoiam os Bombeiros?
Através de subsídios relativamente pequenos porque também não têm poder financeiro.
A única situação que nos é favorável é o facto da Câmara Municipal nos atribuir um subsídio de cerca de 34 mil e oitocentos euros, que nos deixa mais desafogados.
O Estado também dá uma comparticipação. Dantes pagavam o subsídio de Segurança Social que era da responsabilidade da entidade patronal, davam subsídios de combustível, pagavam as licenças dos rádios, mas agora resolveram extinguir isso e optaram por dar um subsídio mensal que anda na volta dos 8 mil e seiscentos euros anuais.

“Há 14, 15 anos, deu-se um incêndio muito grande que começou nas Fontainhas, passou pela Herdade da Faria, pela Apostiça, pelas Mesquitas... andámos lá uma semana e eu nem sequer tinha carro de Comando, tinha de ir a pé, imagine!”

Já houve alguma situação em que deixassem de prestar socorro imediato na Quinta do conde por falta de meios?
Para termos viaturas temos de ter pessoas e para termos pessoas temos de ter viaturas. O socorro nunca foi deixado de prestar, por vezes pode demorar mais um pouco porque tem de sair de Sesimbra. As 3 ambulâncias que estão na Quinta do Conde podem não chegar se as coisas se complicarem, mas normalmente é sempre na hora.

Terminou o Inverno e as chuvas que chegaram a provocar inundações na Quinta do Conde. Conseguiram dar resposta aos apelos que chegaram?
Na altura das inundações mobilizámos os Bombeiros de Sesimbra para a Quinta do Conde, não tivémos qualquer problema...

Qual é o principal factor que está na origem deste género de acidentes?
As pessoas constroem as casas abaixo da linha de água e quando chove a água não corre para cima, corre para baixo (risos).

Voltada a página da chuva, entramos na época dos incêndios. Estão preparados para os receber?
Estamos preparados porque de há 3 anos a esta parte temos recebido um subsídio da Autoridade Nacional da Protecção Civil para manter aqui 17 homens a tempo inteiro. Para além disso, este ano assinámos um protocolo com a Câmara de Sesimbra para mais 7.
De momento não temos dificuldade em pôr na rua viaturas, a menos que seja um incêndio de grande envergadura, mas quando é assim, não há ninguém que chegue.

Dada a sua experiência como Bombeiro, o que é que está na origem da maioria dos fogos florestais?
Acima de tudo é a falta de cuidado e a mão criminosa.

Recorda-se da maior tragédia com que teve de lidar desde que está nos Bombeiros?
A maior tragédia foi há 14, 15 anos, um incêndio muito grande que se deu no Concelho de Sesimbra. Começou nas Fontainhas, passou pela Herdade da Faria, pela Apostiça, pelas Mesquitas... andámos lá uma semana e não tínhamos meios. Neste momento os meios são bastantes, posso mesmo dizer que suficientes, mas na altura foi muito complicado. Eu nem sequer tinha carro de Comando, tinha de ir a pé, imagine!

E na Quinta do Conde, recorda-se de algum episódio dramático?
Não, para além das cheias e das pessoas quererem assistência ao mesmo tempo não me recordo de nenhuma situação complicada.

“Penso que num futuro próximo a Associação Humanitária de Bombeiros da Quinta do Conde se devia juntar aos Bombeiros de Sesimbra, aparecerem para as eleições, serem incorporados numa lista com um elemento ou dois e trabalharmos em conjunto”

Ainda existem muitas crianças e adolescentes que tenham o sonho de ser soldados da Paz?
Ainda aparecem muitos jovens com vontade de ser Bombeiros, mas na minha opinião isso acontece porque não há emprego no Concelho de Sesimbra e as pessoas começam por ser Bombeiros voluntários, passados uns meses pedem para ganhar qualquer coisa e acabam por receber, porque todos precisamos...
Vou dando aqui emprego mas de resto, não vejo que as pessoas estejam muito inclinadas para se dedicar ao voluntariado. Isso é para mim, que sou reformado, gosto disto e ando aqui.

Para concluir, gostava de pedir uma opinião quanto à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Quinta do Conde.
Aqui há muitos anos tive uma reunião, na Quinta do Conde, para discutir essa Associação e a conclusão a que cheguei foi a de que a Associação pretendia ficar com as instalações dos Bombeiros de Sesimbra, o que não é oportuno nem viável. O caminho por que eles têm caminhado não é o mais apropriado, existe uma Instituição sedeada na Quinta do Conde, que lhe presta socorro e que não o põe em causa. Para que uma Associação tenha um corpo de Bombeiros precisa de dinheiro e não acredito que ele exista.
O que penso que deveria ser feito era, num futuro próximo, eles juntarem-se aos Bombeiros de Sesimbra, aparecerem para as eleições, serem incorporados numa lista com um elemento ou dois e trabalharmos em conjunto.
É a união que faz a força, não a desunião.
Temos um caso próximo, o da Amora, que conseguiu uma corporação de Bombeiros porque o Seixal não tem capacidade de resposta. Eu posso-lhe dizer que vamos fazer serviço para o Seixal, para a Amora, para os Brejos de azeitão, para Azeitão, para as Cabanas, para zonas que não fazem parte da nossa área e aqui não precisamos de ninguém porque temos capacidade de resposta, a menos que haja para aí um sismo...

É por isso que fizeram um cartaz a dizer que são diferentes?
Sim, tenho pessoal que é diferente dos outros. Um ano fiz esse cartaz que dizia “Nós não somos como os outros, somos diferentes”. Somos diferentes porquê? Porque sou um presidente que fui comandante, fui Bombeiro, as pessoas conhecem-me, sou activo, tenho percepção das coisas, ajudo, dou conselhos, estou muito tempo no Quartel...
Esta é uma maneira diferente de actuar, no meu Concelho, onde for solicitado o socorro, eu estou lá, faço-o por amor à camisola e nem sequer recebo nada.

O Condense, edição nº 38, Maio 2008