Sem nunca revelar “o segredo” de sua arte, Bruno Silva sagrou-se vencedor de um conjunto de provas dinamizadas, de Janeiro a Julho, pelo Clube Columbófilo do Fogueteiro (CCF), no Correr d’Água. A entrega dos prémios aconteceu no domingo de eleições, dia 27 de Setembro, o que não impediu o Clube de se mobilizar para o convívio num almoço animado e intimista. Jornal do Seixal uniu-se à causa e foi conhecer os mistérios da columbofilia, o desporto com mais praticantes em Portugal depois do futebol e o que menos tem de mediático.
“Mando os pombos para Espanha e eles vêm”, explicou. Por se ter de dedicar às aulas, Bruno Silva não teve oportunidade de acompanhar o grupo que rumou a Barcelona, libertou as aves e regressou a casa, na expectativa de saber qual seria o atleta mais rápido a regressar ao seu pombal.
Saliente-se que a columbofilia é um desporto praticado, na sua maioria, por adultos e é no Clube do Fogueteiro que se encontram os mais jovens praticantes do Distrito. Para além de Bruno, também Ana Filipa de 11 anos, Rafael Gomes de oito e Sérgio Tadeu com 12, se dedicam à modalidade.
No caso do mais recente campeão do CCF, o interesse surgiu em casa, com o pai. Porque estes pombos-correio são atletas de alta competição, os columbófilos têm de fazer um treino diário sem esquecer a alimentação das aves, o tratamento e a limpeza dos pombais. Estas regras são fundamentais para que os pombos consigam participar nas provas, que podem ir dos 250 quilómetros (que pode demorar 3 a 6 horas) aos mil (que pode retardar 2 dias).
Fundado em Julho de 1976, na década de ’90 o Clube Columbófilo do Fogueteiro chegou a contar com 42 membros - cerca de mil pombos – fazendo do Clube um dos maiores do Distrito. Actualmente é constituído por 12 elementos, com cerca de 260 aves na sua totalidade.
Pombos perdidos desde então? “Milhares”, uma média de “30 pombos por ano”, declarou entre risos um dos fundadores do Clube e seu actual tesoureiro.
Na corrida para casa, algumas aves param para descansar “e as pessoas que não conhecem a modalidade apanham-nos, outros fazem uma canjinha, as aves de rapina são outro perigo, os postes de alta tensão, embates em árvores”, explicou, “ainda este ano tive dois pombos feridos pelas águias”, “uns safam-se e outros morrem pelo caminho”.
Os borrachos de Bruno participaram apenas nas provas mais curtas, de velocidade e meio-fundo e em todas elas, o jovem enviou seis pombos. Quanto ao tempo dispendido para trienar os seus atletas, nada de especial, já que para si a Columbofilia é “um hobbie”. “O que é que sentiste quando os teus pombos ganharam?”, “nada!”, respondeu Bruno entre o riso geral. Apesar de não saber que os seus atletas o viriam a fazer um vencedor, o jovem nega ter um segredo e perante a insistência dos veteranos, “conta, conta, conta”, o rapaz não se descaiu, “só lhes dou água e ração”.
Sentido de orientação: Um mistério por descobrir
Apesar das inúmeras pesquisas, os cientistas parecem demorar a descobrir o grande mistério da modalidade: “como é que os pombos sabem o caminho de regresso a casa?”, no entender dos columbófilos do CCF, “o seu sentido de orientação ainda está por entender”.
Recorde-se que o pombo-correio não leva uma mensagem espontaneamente para um determinado destino, ele é transportado do seu local de origem até um certo ponto de partida, de onde saberá como retornar a casa. É um mecanismo natural que o atleta tem, uma estratégia adaptativa, já que os pombos-correio possuem uma moradia fixa e procuram sempre voltar para esse abrigo, onde encontram protecção, alimento e os membros de seu bando.
Segundo Ronald Ranvaud, professor de Neurofisiologia e Ciências Cognitivas, explicou na Revista Escola, “para se guiar no caminho de volta, os pombos possuem três habilidades fundamentais: a visão, pela qual localiza o Sol e identifica sua posição (leste, oeste e norte); o relógio interno, por meio do qual identifica o período do dia (manhã, meio-dia, tarde, noite); e a memória, que ele utiliza para aprender a relação entre a posição do Sol e o horário”.