26.3.07

SIMARA
A senhora dos cristais

A jornalista Suzete Blasco deixou a vizinha Espanha para se dedicar à música em Portugal. Inverteu o nome de uma personagem dos 3 Mosqueteiros e tornou-se na famosa Simara, uma mulher enérgica cujas cantorias não impediram de estudar e obter várias especializações. Conhecedora de muitas figuras mediáticas, foi na casa mais famosa do país que se viu obrigada a lidar 24 horas por dia com a hipocrisia.

Simara dedica-se agora ao tarô e à cristaloterapia tendo por base os ensinamentos que lhe foram transmitidos pela sua bisavó e conta mesmo com um verdadeiro milagre no seu reportório, aquele em que a paciente entrou no seu consultório numa maca e saiu a caminhar.

A Simara tem raízes espalhadas por toda a Europa mas foi em Portugal que decidiu viver há cerca de 20 anos. Foi fácil adaptar-se a esta cultura?
Não, não foi nada fácil, há 20 anos Portugal era um país completamente parado, apesar de hoje já estar ao nível dos outros países europeus. Eu vinha com o “know how”, com uma experiência tanto no campo profissional esotérico como no artístico e o círculo era pequeno para mim, mas gostei da paz que o país transmitia, gostei desde o início, principalmente de Lisboa, sou uma apaixonada por Lisboa...

Uma das suas características é o facto de se estar sempre a rir. Considera os portugueses seres mal-humorados?
Não, aí é que está! Há 20 anos atrás era muito raro ver um português a rir, principalmente em público, mas à medida que se sentiram mais seguros de si próprios, começaram a rir, penso até que têm um sentido de humor apurado e que são muito divertidos. Por vezes as pessoas dizem que “aquela pessoa passa a vida a vida a rir, parece tola”, mas não, rir é o melhor remédio! O chorar afasta, o rir traz as pessoas até nós!

Como iniciou a sua vida em Portugal?
Comecei com a canção e tinha o meu consultório montado em Madrid, onde ia todos os 15 dias. A canção foi acontecendo, quando eu era pequena já cantava no Brasil e aos 15, 16 anos, conheci o Roberto Carlos que me ajudou e deu um empurrão para eu iniciar uma carreira artística. Hoje temos 8 a 10 concertos de cantores internacionais todas as semanas, mas há 20, 25 anos atrás existiam 1 ou 2 ao ano, que eram um êxito! Eu fui para Espanha e foi lá que construí a minha carreira de cantora. Fiz um espectáculo muito grande onde levei muitos bailarinos e bailarinas e percorremos todo o Norte da Europa, incluindo os países da cortina de ferro – como lhes chamávamos na altura – e quando cheguei a Portugal tinha ideias alucinantes. Cá não havia campo para aquilo, mas as coisas foram acontecendo e para bem, creio eu...

Em Espanha é conhecida como Suzete Blasco. Porque escolheu Simara para nome artístico?
Acho o nome Simara muito bonito por se relacionar com uma personagem da literatura que me marcou. Eu era muito pequenina quando li pela primeira vez os 3 Mosqueteiros, um deles era o Aramis. Quando tive de escolher um nome artístico lembrei-me de adoptar esse nome.
Na altura em que enveredei pela canção, eu trabalhava como jornalista para uma grande agência de informação espanhola, a agência Efe. Na altura era muito conhecida como Periodista (jornalista) Blasco, mas para que não descobrissem que Suzete Blasco era a cantora e dissessem que estava a utilizar os meus conhecimentos de jornalista para me ajudar, decidi mudar o nome. Procurei muitos nomes, achava Shirley muito bonito mas também muito americanizado… Foi então que decidi virar Aramis ao contrário, que é Simara…

Aliás, há quem defenda a tese de que Aramis era uma mulher…
No meu conceito o Aramis era um padre… Haviam muitos conceitos, mas quer seja padre ou mulher é uma boa influência.

Depois das canções, a Simara “desapareceu” do circuito mediático e voltou a surgir no programa Big Brother Famosos. O que é que mais a marcou nessa aventura?
O viver com pessoas que não se conhecem. Até 2001, eu nunca tinha dormido fora da minha casa com outras pessoas que não conhecesse. Só conhecia o João Melo, éramos amigos mas não íntimos. Marcou-me muito tanta hipocrisia e mentira juntas e ver o que as pessoas conseguem e são capazes de fazer, sejam famosas ou não, pelo dinheiro.
O marketing que fizeram foi no intuito de uma pessoa ganhar no final mas Deus é Pai e essa pessoa também não ganhou. Eu dou a minha certeza, se me voltarem a ver num “reality show” é porque estou a ganhar muito dinheiro! Já fui convidada para a Quinta das Celebridades, para a Primeira Companhia e para muitos outros programas e não aceitei.

Nessa altura, um jornal nacional de grande tiragem copiou uma informação fictícia de um blog e divulgou-a como sendo real: “Simara afirma ser a estrela de Belém”. Chegou a ter conhecimento deste episódio?
Cheguei, mas isso é mentira! Com a internet, as pessoas conhecidas ficam à mercê de blogues, mas essas coisas não merecem resposta, há muitas coisas más que fazem contra as pessoas conhecidas às quais não vale a pena responder. Se eu der uma resposta vou fazer com que eles voltem a dizer alguma coisa e isso é uma bola de neve que vai enlameando tudo à volta.

“Nunca sabemos qual é o curso que nos vai ajudar em determinado momento da vida, quanto mais estudarmos, melhor…”

Para além de artista a Simara já referiu ter sido jornalista e tem mais duas especializações completas, em Relações Públicas e Humanas e em Sociologia. Já exerceu nestas duas áreas?
Sim, e Sociologia exerço quase diariamente, quando faço a leitura do tarô. Muitas das vezes, as pessoas vêm a uma consulta de tarôt e de cristais em busca de respostas e é muito importante estarmos minimamente equilibrados para darmos bons conselhos. Imagine que alguém desequilibrado lhe deita as cartas e diz que realmente o seu marido a trai e você deve matá-lo… nesse momento está tão desesperada que é capaz de obedecer!
Eu sempre fui muito fã de estudar, também tirei os cursos de homeopatia e de cristaloterapia exactamente por isso, porque nunca sabemos qual é o curso que nos vai ajudar em determinado momento da vida. Quanto mais estudarmos, melhor…

Um dos seus diversos ofícios foi ser assessora do presidente da Câmara Municipal de Loures. Como foi a experiência?
Foi boa, mas aconteceu numa altura complicada, em que se deu o falecimento da minha mãe e o nascimento da minha filha. Isto tudo no período de um ano, fiquei muito em baixo... Depois das eleições cheguei a um acordo com o Carlos Teixeira e decidimos dar um tempo, talvez até à bebé ter 2 ou 3 anos. Mas eu continuo ligada a Loures, adoro essa região, tenho lá muitos amigos e torço sempre por eles.

Actualmente dedica-se à cristaloterapia e ao tarô. Qual é a diferença entre ler as cartas e deitar o tarô?
São duas coisas diferentes. As cartas são lidas pelo cartomante, eu não penso que uma das coisas seja melhor do que a outra, mas tarô é tarô. Comigo pode saber tudo, até o signo da pessoa que supostamente a esteja a prejudicar. Eu deito o tarô da forma que aprendi com a minha bisavó, claro que ao longo da vida fiz vários cursos para aprender mais. Antes do tarô tenho uma conversa com a pessoa, mas exijo que não me fale do assunto que vem procurar, só preciso de saber o seu nome, se é casada ou solteira, se tem namorado ou filhos e se trabalha, a partir daí deito as cartas e direcciono a leitura para o que a pessoa quer saber. Ao longo da leitura vão-me surgindo as palavras na boca e vou dizendo o que se passa. 90 por cento das vezes, para não dizer mais, o que digo está certo.

Quais são as propriedades terapêuticas dos cristais?
Há dois tipos de cristais. Uns são voltados para a saúde e nesses tenho tratamentos para tudo, desde o alcoolismo, ao reumático, à obesidade – se é para perder 5 ou 10 quilos, devem-se ferver os cristais para fazer um chá que se bebe diariamente. As dores nas articulações e no reumático desaparecem porque estes chás funcionam como anti-inflamatório. Cada pedra tem uma função, a apatita serve para tratar da obesidade mas não basta deitar a pedra num tacho e ferver, ela tem de ser limpa, magnetizada e eu entrego-a pronta para utilizar. Se a pessoa tiver dores nas articulações vamos buscar uma calcita laranja e preparamo-la para fazer um chá, ou podemos procurar uma pedra mais polida para massajar os joelhos, as ancas ou outras zonas mais doridas. A cristaloterapia para doenças funciona à base de chás e de fricções.
Se formos para o campo esotérico, temos cristais que racham a nossa carga negativa, a inveja, os ciúmes ou as bruxarias. Existem cristais que nos protegem, atraindo coisas boas e repelindo coisas más. Isto não foi inventado por mim, já Abraão é descrito na Bíblia como o homem que vestia um peitoral de ouro com pedras preciosas que o protegiam, essas pedras correspondem aos cristais.

Os cristais que utiliza são elementos simbólicos ou jóias reais?
São cristais mesmo, mas em vez de utilizar os cristais lapidados como os dos anéis e dos brincos, utilizo-os em bruto, que são muito mais fortes.

“A cristaloterapia é fantástica para quem sofre de depressão, de esquizofrenia, de nervos...”

Muitas pessoas não têm sensibilidade para compreender os benefícios das terapias naturais. Pode partilhar algum episódio que possamos considerar um verdadeiro “milagre” do ponto de vista médico?
Posso, tenho uma paciente que já o é há dez anos. Ela tinha cerca de 40 anos e no hospital de Coimbra diagnosticaram-lhe esclerose múltipla. A médica, que devia ser uma pessoa muito sensível, disse-lhe para ir para casa e comprar um caixão porque iria falecer em queda livre. Aquela mulher comprou mesmo um caixão e guardou-o na garagem. Um dia eu fui a um programa do Júlio Isidro e apresentei o meu tratamento de cristaloterapia. A mulher viu-me na televisão e chateou tanto o marido que ele a trouxe, de Torres Novas a Lisboa, de ambulância. Quando cheguei ao meu consultório, que era num hotel, vi uma maca a ir para dentro e pensei, “será que alguém se sentiu mal?”, imagine qual foi a minha surpresa quando vi essa mesma maca no meu consultório! Eles explicaram-me a situação e convidei-os a entrar, o marido levou-a em braços, sentou-a numa cadeira, eu fiz o tratamento e ela saiu a caminhar.

Curou-a então da esclerose múltipla?
Claro que não, a esclerose múltipla não tem cura, porém posso dar melhoria na qualidade de vida das pessoas que têm doenças incuráveis. A verdade é que ela é minha amiga e paciente há mais de dez anos, não morreu e vendeu o caixão. A Arlinda é um pequeno milagre da minha vida, é claro que tem fases em que se vai muito abaixo, porque esta doença faz a pessoa abanar muito e ter depressões, são pessoas muito lúcidas e que não esquecem nada!
A nível de doenças podemos tratar qualquer coisa, depois temos as pedras que utilizamos como patuás (amuletos), como símbolos que ajudam. Por exemplo, eu nunca tive nenhum problema com os meus carros e ofereço sempre aos meus amigos um quartzo branco em bruto. Eles jogam essa pedra no carro e esquecem-se dela lá, mas protege. O quartzo branco é contra os acidentes de viação, repele o choque!

Há quem se iniba de recorrer a estas técnicas com receio de ficarem muito dispendiosas. Qual é o preço médio que cobra no seu consultório?
Quem quer ajudar não cobra milhares. Temos de receber das consultas, no meu caso cobro 50 euros e sem tempo definido, seja cristaloterapia ou tarô. Este valor inclui o custo de umas velas e de outros objectos, como um cristal necessário, mas nunca exigi nada sob pena de não ajudar...

Este ano a Simara já deitou o tarô para Portugal?
Para ser breve, vamos ter uma previsão com Júpiter e outra com Saturno. Este vai ser um ano extremamente positivo, o Júpiter é um planeta bonzinho, só dá sorte, alegria e boa disposição. Claro que se me disserem “morreu a minha tia e eu chorei” eu compreendo, porque também vão acontecer coisas más, mas astrológicamente é um ano excelente para todos os signos.
Até Junho, Portugal vai viver o sufoco de sair do buraco, porque nós estamos num buraco muito grande, mas não é nada que eu não tenha previsto há dois anos atrás. Em Junho vai haver uma retoma, vamos respirar um pouco mais de oxigénio...

Nova Morada, edição nº 311, 19 Janeiro 2007