29.9.09

A OUTRA FACE DO AVANTE

Etnografia, desporto e amor numa Festa de intervenção

Este ano, o Jornal do Seixal (JS) procurou conhecer o reverso da Festa do Avante, que se realizou na Quinta da Atalaia, cidade de Amora, entre 4 e 6 de Setembro. Com destaque para a etnografia – que cada vez conta com mais adeptos – e o desporto – uma área participada por milhares, na festa dos comunistas houve ainda espaço para o amor, que chegaria no domingo, ao ritmo de Peste e Sida e minutos antes do comício...


Um verdadeiro caos! O primeiro dia de Festa condicionou o trânsito entre Lisboa e Seixal, cujas filas de vários quilómetros se mantiveram noite a fora.

Já na Atalaia e após longas horas de espera, muitos deixaram de lado a ideia de instalar tenda na área de campismo, o que não impediu a Quinta de encher e transbordar com público de diferentes idades, hábitos e preferências políticas.

No cimo de um monte, entre os stands de Lisboa e Aveiro, os militantes do Partido Comunista Português (PCP) instalaram o Palco Arraial. Com um programa repleto de folclore e com imensos jovens sempre prontos a evidenciar os seus passos, foi junto de Conceição Loureiro que soubémos um pouco mais acerca destes espectáculos.

Pelo Palco Arraial passaram grupos etnográficos, corais, de música popular portuguesa e folclore, havendo ainda espaço para a animação, como foi exemplo o conjunto Farra Fanfarra, que dali partiu e ali chegou com um espectáculo em movimento pela rua e muito acompanhado.


No Palco Arraial muitos cumprem o “sonho de uma vida”


Sem se referir ao momento mais participado do evento, já que foi constituído “por vários”, Conceição Loureiro avançou que “este é um Palco que tem sempre muito público, de diversas idades”, uns motivados pelo gosto na música e outros por saber que “no final da Festa ainda estamos a funcionar”.

Apesar de ter o seu programa destacado na revista, como acontece com o Palco 25 de Abril ou o Auditório 1º. de Maio, o Palco Arraial tem ainda a particularidade de contar com vários momentos de improviso, “o que apela à participação de quem está a ver” e acaba por se prolongar, “porque as pessoas aderem à música, dançam e porque os próprios grupos se sentem muito satisfeitos”.

Saliente-se que grande parte dos artistas que dançam no Arraial fazem centenas de quilómetros para ali se apresentarem, “alguns deles realizam sonhos de uma vida inteira e nós apercebemo-nos disso”, o que faz com que “os horários se tornem difíceis de coordenar”.

Com propostas de Norte a Sul de Portugal e “para além da questão da representatividade”, é também critério da Comissão Organizadora “dar a oportunidade de variar os grupos de ano para ano, com a preocupação de ter um modelo que satisfaça as diferentes organizações a nível regional do próprio Partido”, que apostam numa grelha em que a sexta-feira se destina à música popular portuguesa, o sábado aos ranchos folclóricos e cantares e o domingo a um modelo misto, o que acaba por deixar alguns grupos de fora.

No entender de Conceição Loureiro, a cultura etnográfica portuguesa “é muito rica” e, espantem-se os mais cépticos, “se falarmos em médias de idades, temos a participação de muitos jovens, crianças e pessoas de idade”, os pauliteiros por exemplo, “têm uma média de idades entre os 20 e os 30 anos”, explicou.

Com a preocupação de manter, divulgar e conhecer as questões etnográficas do País, as danças e músicas do Palco Arraial soaram até altas horas, num espaço onde se deu o convívio entre pessoas de cada canto do País e onde se criaram fortes laços “que nos enriquecem pessoal e culturalmente”.


Corrida bate recorde com 1350 atletas


À conversa com Brázio Romeiro, coordenador da Comissão Nacional de Desporto da Festa do Avante, ficámos a conhecer inúmeras manifestações desportivas que ali se vão realizando ao longo dos anos, mantendo o figurino tradicional, e que vão do espaço de xadrez à parede escalada, passando por matraquilhos, boxe ou bóssia.

Também os torneios de futebol de praia e de futsal se mantiveram, o último contando com 42 equipas num total de 720 jogadores.

Muito concorrido foi também o passeio de cicloturismo, que se realizou a 30 de Agosto e contou com a presença de 324 atletas e 34 equipas. Como passeio que foi, partiu da Festa do Avante e atravessou o Concelho do Seixal, passando pelo Barreiro, Moita, Palmela, Quinta do Conde, Fernão Ferro e regressando à Quinta da Atalaia, num total de 68 quilómetros a pedalar, sendo que esta tradição em anos anteriores chegou a partir de Lisboa ou do Pinhal Novo. O grande objectivo de arrancar com um Passeio dias antes do evento, foi o de “proporcionar aos participantes a possibilidade de conhecer a fase de montagem da Festa sem quaisquer constrangimentos”.

No domingo de manhã houve espaço para a Corrida da Festa, com um percurso de 10 mil metros que partiu da Amora e seguiu até ao Seixal, com a participação recorde de 1350 atletas. 2009 foi o ano em que se verificou o maior número e representou “um aumento muito significativo” em relação a anos anteriores.

Sem se sentir minimizado pelo destaque que habitualmente é dado à componente Cultural e Política do Avante, Brázio Romeiro declarou que “a Festa é constituída por vários talentos e vários espaços, é muito diversificada e tem outros momentos, como o Pavilhão Central, a Cidade Internacional e todos os outros”, havendo espaço para cada um deles.

E porque quem corre por gosto não cansa, o desporto não parou durante toda a festa, como é exemplo o sarau gímnico ou os jogos de futebol, andebol e esgrima, que aconteceram durante o fim-de-semana.

No final da tarde de sábado, JS deparou-se ainda com o espaço de boxe, onde dois lutadores exibiam as suas artes.

Numa Festa tradicional, saliente-se a malha corrida, grande e pequena, um conjunto de actividades feitas em parceria com associações da especialidade e que contou com várias fases e etapas que culminaram nas jornadas realizadas no Avante.

No final da iniciativa, os 720 atletas que participaram no Avante Jovem desfilaram pela Festa, seguindo-se a entrega dos prémios e lembranças. De referir “que a Comissão Nacional do Avante é constituída por cerca de 112 camaradas e amigos que fazem parte da equipa e de todos os pontos do País”, quis esclarecer Brázio Romeiro.

E porque “a vida são dois dias e o Avante três”, houve ainda espaço aéreo para que a habitual avioneta que todos os anos se pavoneia com a mensagem “Amora a Concelho” ali passasse, mas desta vez com palavras de amor emitidas pelo Marco do Alentejo “Ana casa comigo”, um pedido de casamento no ar e que deixou ao rubro os espectadores dos Peste e Siga que se tentavam aguentar no recinto em horas de forte calor.


Jornal do Seixal, 11 de Setembro de 2009