28.9.07

Mercado Municipal de Azeitão
UMA IMPOSIÇÃO DA RAINHA

O Mercado Municipal de Azeitão nasceu no século XVIII por imposição de D. Maria I, a mesma Rainha que a pedido do povo e da nobreza locais transferiu a sede do Concelho para Vila Nogueira. Os anos passaram, os séculos também mas esta feira, que se realiza todos os primeiros domingos de cada mês, resistiu às rasteiras do tempo e mantém ainda algumas das características da Idade Moderna.

Mudou de pouso, deixou de vender gado, mas continua a apostar no comércio de aves, comidas e bebidas que fazem as delícias da população.
Em cada edição o Mercado conta com cerca de 15 a 20 mil pessoas, entre elas Henrique Gonçalves, presidente da Junta de São Lourenço, que afirma que esta é “a maior fonte de receitas da Freguesia”.

Nova Morada - Faça um breve retrato histórico do Mercado Municipal de Azeitão.
Henrique Gonçalves -
O Mercado de Azeitão realiza-se desde 1780 e resulta de um decreto da Rainha D. Maria I, que por pedido do mecenato ordenou que se fizesse uma feira nos 3 primeiros dias de Dezembro e um mercado no primeiro domingo de cada mês. Desde então que o Mercado Municipal acontece neste dia apesar de já ter tido várias localizações, como no Largo do Rossio onde decorreu durante vários anos até à década de 80.
O elevado número de feirantes criou vários constrangimentos à Vila Nogueira e limitava bastante o acesso às pessoas que lá queriam ir, daí que se tenha passado a realizar num novo espaço...
Mudou de sítio, realiza-se ao lado da Estrada Nacional, tem perto de 900 feirantes e é visitado por cerca de 15 a 20 mil pessoas diariamente. Diagmos que é talvez a maior iniciativa que a Junta de Freguesia de São Lourenço vai realizando ao longo dos anos.

Quais as principais diferenças entre este Mercado do século XXI em relação ao que existia nos tempos da Monarquia?No início esta era uma feira de gado composta por algumas barraquinhas de comidas e bebidas. O comércio de gado manteve-se até há cerca de 7 a 8 anos atrás, quando foi proibida a venda de animais vivos em mercados que não fossem específicos para essa actividade. Apesar disso, continuam-se a vender aves.
As comidas, as bebidas e as aves são as áreas que funcionavam nessa altura e que ainda se mantêm.
A parte das ferramentas também continua a existir, os utensílios mudaram mas ainda se comercializam produtos agrícolas. A venda de plantas e de árvores também é uma mais valia e existe ainda uma rua específica para os produtores venderem o que produzem, um aspecto que se enquadra nas características mais tradicionais.
A maioria dos produtores são cá da Terra, de Azeitão, de Palmela, da Maçã ou da Moita...
A charcutaria, os presuntos, os queijos, o bacalhau ou a azeitona são alguns dos alimentos regionais que comercializamos, a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) tem vindo criar alguns constrangimentos para que os produtores continuem a exercer a sua actividade, mas os feirantes têm-se vindo a adaptar e a rua continua a ter muita procura.

Quais são as regras impostas pela ASAE que os comerciantes mais contestam?
Digamos que houve algumas medidas a provocar protestos, acima de tudo resultado de apreensões de material contrafeito e de alguns produtos alimentares. Mas os comerciantes têm vindo a rectificar os processos de venda e penso que neste momento estão em condições de receber os fiscais sem problemas.

Algum feirante viu a actividade comprometida depois dessas fiscalizações?
Não. Duvido que, em termos de logística, alguém tenha desistido por causa disso. Penso sim, que houve uma adptação muito rápida às novas regras...

Presidente da Junta visita o Mercado
“ACIMA DE TUDO PELA TRADIÇÃO”

Há pouco referiu-se à proibição da venda de gado nos mercados. A “gripe das aves” também chegou a afectar os comerciantes?
A gripe foi uma altura de muitas dificuldades e em que deixámos de vender aves. Azeitão estava no limite da área de proibição, ou seja, estava dentro do perímetro da área do Sado por 500 metros, espaço onde era expressamente proibida a venda aviária. Mais tarde, a Direcção Geral de Veterinária determinou algumas regras segundo as quais seria permitida a venda e o Mercado de Azeitão foi o primeiro a ter autorização para voltar a comercializar aves, até porque rapidamente criou as condições para que isso pudesse acontecer. Na altura já tínhamos essa rua alcatroada e uma das condições era que as aves não estivessem sobre a terra. Todas elas tinham de estar protegidas com um toldo ou dentro das caixas das camionetas e os carros tinham de ser desinfectados à entrada e à saída do Mercado. Nós cumprimos as obrigações e posso dizer que estivémos um máximo de 3 feiras sem venda de aves...

Quais são os meses em que o Mercado é mais concorrido?
No início do Outono, Setembro e Outubro; em Dezembro por causa do Natal e na altura do Verão, em Agosto, se bem que de forma menos intensa...

Podemos considerar esta feira como a maior fonte de rendimentos de São Lourenço?
Sim, é a maior fonte de receitas da Freguesia, mas também é a maior fonte de despesa. A manutenção daquele espaço requer de muito dinheiro tanto em segurança como na limpeza ou fiscalização. Envolve muita verba, mas fazendo o balanço vale a pena.

O presidente da Junta é um cliente do Mercado?
Sim! Digamos que os produtos que eu procuro são a nível de vestuário infantil, que também se vende muito bem, de plantas, pão e alguns doces tradicionais de outras zonas do país, brinquedos, enfim... em todos os mercados acabo sempre por comprar qualquer coisa.

Recorre à feira pelos preços competitivos?
Acima de tudo pela tradição. Penso que muitas pessoas daqui vão ao Mercado sem intenção de comprar o que quer que seja, mas depois de lá estar acabam sempre por levar qualquer coisa...

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Henrique Gonçalves
“O parque escolar na Freguesia está completamente saturado!”

Para além de Presidente da Junta de Freguesia, Henrique Gonçalves é também docente. A seu ver a questão de sobrelotação das escolas tem de ser resolvida com urgência e é com optimismo que aguarda a entrada em funcionamento da EB1 e Pré-Primária da Brejoeira, uma infra-estrutura programada para funcionar daqui a 2 anos.

Nova Morada - A Quinta do Conde tem planeada a construção de uma nova Escola Secundária para servir alunos da Vila e das redondezas, como é o caso de Azeitão. Esta infra-estrutura é urgente?
Henrique Gonçalves -
Sim, urgentíssima!
A Escola 2+3 de Azeitão costuma ter 3 a 4 turmas de 9º ano e se multiplicar 25 a 28 alunos por 3, 4 turmas dá na ordem dos 120 jovens a aceder ao Ensino Secundário! As distâncias são grandes e o transporte nem sempre é o essencial. Esta Escola é muito importante para a Quinta do Conde e também para a Freguesia de São Lourenço...

Como docente, como é que analisa o estado da Educação no Distrito de Setúbal?
Sou professor na Quinta do Conde há cerca de 13 anos e verifico que o parque escolar na Freguesia está completamente saturado, nomeadamente na oferta do Ensino Secundário. Em São Lourenço, o número de salas também já não chega para todos os alunos do Básico e este ano houve a necessidade de reforçar as salas de aulas com contentores pré-fabricados...
Tudo isso condiciona a aprendizagem e a qualidade de Ensino, o grande problema é a falta de capacidade em cumprir um horário normal o que também invalida a existência de actividades extra-curriculares decretados pelo Ministério e que aqui na nossa Freguesia são difíceis de implementar.
Existe já o projecto de uma Escola de 1º Ciclo e Pré-Escolar para a Brejoeira, o que trará de certeza melhores condições de trabalho para docentos e alunos. De acordo com o Plano Educativo, a construção deverá começar em 2009.
Esperemos que corra tudo pelo melhor e que seja uma realidade dentro de 2 anos...

A sua área é o Desporto... o exercício físico anda sobre rodas em São Lourenço?
Tanto na nossa Freguesia como em quase todas as outras, o Desporto é desenvolvido pelo movimento associativo... Em São Lourenço existem muitas associações! Em termos desportivos e tendo em conta os grupos que estão melhor organizados, temos a Juventude Azeitonense que se dedica ao Hóquei em Patins e com várias equipas de formação incluindo uma sénior. Ao nível do Futebol temos o CCDBA (Centro Cultural e Desportivo de Brejos de Azeitão) com várias equipas de formação que vão desde as escolinhas aos júniores e a modalidade de Patinagem Artística. Podemos ainda contar com o Centro Ciclista Azeitonense que, como o próprio nome indica, está ligado à velocipedia. A par da natação que é desenvolvida pela Câmara Municipal posso afirmar que há uma oferta diversificada, não aquela que desejaríamos mas, atendendo ao nível populacional da Freguesia, dá alguma resposta às necessidades.

Com o chumbo do Orçamento Municipal para 2007 a Freguesia de São Lourenço fica afectada?
Afectada será sempre, mas o executivo Municipal conseguiu encontrar os mecanismos adequados para que essa dificuldade não seja sentida no dia-a-dia da população.

Nova Morada, edição 333, 28 Setembro 2007