90 MIL EUROS EM FALTA PARA OBRAS DE AMPLIAÇÃO
A longa lista de espera de crianças que aguardam a sua vez para dar entrada no Externato Santa Joana poderá ser reduzida drasticamente no ano lectivo de 2008/09, declarou Florindo Paliotes, actual presidente da direcção da Instituição ao Nova Morada.
Foi em 1923 que José Joaquim da Luz Rumina, benemérito do Externato, deixou este legado a favor da Santa Joana, a princesa protectora da infância. “Deixo à Escola da Beneficiência protecção e assistência a orfãos de Cezimbra, o prédio e seus logradouros, cito no Lugar Vila Amália, Freguesia de Santiago, Concelho de Cezimbra”, esclarecia o documento.
A intenção de apoiar os orfãos ainda hoje é prioritária - sendo que crianças sem pai ou mãe não pagam - mas volvidas várias décadas e trocados os “cês” e os “zês” pelos “ésses”, muito mudou na Instituição. O objectivo imediato é o de ampliar o espaço, para combater a lista de espera que aumentou bastante nos últimos vinte anos. Apoios, precisam-se!
O novo presidente, oficial da Marinha reformado, assumiu o cargo por estar disponível, pois apesar de ser “um trabalho voluntário é essencial para resolver a problemática das crianças, não só das orfãs como das restantes, muitas delas têm ambos os pais a trabalhar e precisam de um espaço”, declarou, visivelmente emociado com a confidência “não sei dizer o quanto é gratificante trabalhar nesta área”...
A visita do Nova Morada ao Santa Joana decorreu numa data agitada, dia 27 de Março e que é também o Dia do Brinquedo, pelo que as crianças estavam demasiado atarefadas para dar o seu testemunho. A visita teve início no Pavilhão, que já serviu as maiores festas da Vila mas que para já se destina ao exercício!
“Queremos fazer do Santa Joana uma Escola moderna, voltada para as crianças, com qualidade...”
A intenção é arrancar com as obras de ampliação em 2008, “para que no início do ano lectivo de 2008/09 se dê uma melhor resposta à admissão e terminemos com as listas de espera”, avançou o presidente. Ainda assim, o projecto terá um custo de cerca de 380 mil euros dos quais ainda faltam 90 mil.
Sensibilizar a Autarquia e os associados e apostar em parcerias são as principais investidas programadas pela direcção.
“Neste momento não há mais de 300 sócios a pagar as quotas, o que não é significativo pois a quota mínima é de 50 cêntimos mensais”, pelo que Florindo considera a hipótese de aumentar esse valor para um mínimo de 2 euros, o “que não é significativo mas que ajuda em gasóleo”, exemplificou.
“Uma mágoa que tenho é a de que alguns sócios, ao deixar de ter os filhos no Externato deixem de pagar as quotas” confidenciou, acrescentando que “estava à disposição de apelar à população o pagamento destas quotas” em atraso.
Outra ideia é a de sensibilizar as próprias empresas para terem algum empenho na adesão a esta causa, pois “mesmo tendo em conta as suas dificuldades”, o trabalho em equipa estaria facilitado e seria “um esforço comum que contribui para uma causa comum” com a garantia de serem também aumentados os postos de trabalho. “Queremos fazer do Santa Joana uma Escola moderna, voltada para as crianças, com qualidade, com vontade e essencialmente fazendo uso das educadoras, das auxiliares de educação e do restante pessoal, porque tão importante é a educadora como a pessoa que faz a manutenção da higiene, que é fundamental”!
Pelo Externato já passaram 1658 crianças de todo o Concelho, sendo de referir que cerca de 70% das actuais residem na Freguesia do Castelo, um “número que pode passar um pouco ao lado” mas que ainda assim “representa uma mais-valia” para a Junta local. Florindo Paliotes reconhece que tanto a Câmara Municipal como as juntas de freguesia têm dificuldades, mas acredita que para além dos apoios financeiros poderiam ser disponibilizados transportes.
E porque a união faz a força, “conto com a Câmara Municipal, com as Juntas de Feguesia, com os beneméritos... Conto com o contributo de todas as pessoas”, declarou o actual presidente.
A actual direcção pretende ainda estabelecer contacto com outras instituições do Concelho que desempenhem funções nesta área, “como o Raio de Luz, a Cercisimbra, a Santa Casa, entre os restantes”, sendo a ideia “criar uma parceria de forma a partilhar os transportes e outras iniciativas”, um projecto ambicioso mas ainda por delinear na totalidade.
Para já, a ideia é “ampliar o espaço adjacente à cozinha para ali se criarem duas salas”, construir-se uma sala de isolamento “destinada a uma criança doente para evitar o eventual contágio à sala e à escola”, a criação de um novo espaço no piso superior e ainda “construir um refeitório porque as crianças para já tomam a refeição na sala”! Para desenvolver a sensibilidade dos miúdos, será ainda construída uma sala de audiovisiais e de música.
Bebés por nascer
Para já, a primazia na admissão é dada aos orfãos, que “têm prioridade absoluta, fazendo jus à vontade do benemérito”, seguindo-se os filhos de funcionários, irmãos de outras crianças que já ali estão e à questão da disponibilidade dos pais. A necessidade de alargamento do espaço é visível!
As regras não combatem a extensa lista de espera e as crianças já admitidas contam apenas com 8 salas – com nomes alusivos ao mar.
A actual direcção assumiu este projecto com o intuito de ampliar as instalações para um espaço lateral de forma a criar mais duas salas, espaços para a direcção, funcionárias, educadoras, auxiliares de educação e pessoal de apoio e cozinha, afinal “é muito importante dar resposta às exigências relativas à segurança alimentar”. Florindo afirmou que “os nossos padrões são muito bons e reconhecidos por pais que frequentaram o Externato e que aqui querem manter os filhos e mesmo netos”, mas apesar da qualidade da alimentação ser boa, “queremos melhorá-la”!
Enquanto acompanhava uma antiga aluna do Externato a preencher um pedido de admissão para a sua filha mais velha, Elvira, coordenadora no Santa Joana, afirmou que “muitos dos pais já aqui andaram e fazem questão em que os filhos também venham. Esta Escola tem laços com pais, tios e irmãos das crianças que insistem para que também elas venham para cá”, explicou, salientando que o próprio marido também estudou no Externato.
“Não temos capacidade para responder a todos os pedidos, temos mesmo inscrições de bebés que ainda não nasceram”, declarou Florindo Paliotes, que recebeu a concordância da coordenadora.
Nova Morada, Edição 321, 30 Março 2007