Paulo Cardoso em Sesimbra
FERNANDO PESSOA, O REI DO QUINTO IMPÉRIO
Fernando Pessoa ficou bastante marcado pelos seus heterónimos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, que mais do que meros pseudónimos foram a invenção de personagens completos, com uma biografia própria, estilos literários diferenciados e com mapas astrológicos específicos. Muitos apelidam essa capacidade de esquizofrenia, de psicografia, de jogo poético ou de golpe de génio, mas Paulo Cardoso vai mais longe e defende que o poeta queria apenas atingir a perfeição.
“Pessoa era Gémeos e tinha o ascendente em Escorpião. Ele queria ascender aos céus e desenvolver as características dos 4 elementos, a Terra, a Água, o Ar e o Fogo. Foi por isso que criou os heterónimos, cada um com o ascendente associado a um dos elementos”, defendeu o astrólogo.
A poesia de Álvaro de Campos viveu três fases distintas. Começou por ser influenciado pelo decadentismo simbolista, depois pelo futurismo e por fim escreveu poemas pessimistas e desiludidos.
Alberto Caeiro escrevia de forma simples e limitada, como um camponês pouco instruído. O autor era inimigo do misticismo e tentava abordar os seus temas com toda a lógica. Pessoa indicava que o célebre “Guardador de Rebanhos”, a grande obra de Caeiro, teria sido escrita de um só fôlego, na noite de Março de 1914, “mas não foi”, contestou Paulo Cardoso.
“Fernando Pessoa diz que O Guardador de Rebanhos foi escrito nesse dia porque fez um cálculo astrológico” da personagem inventada e tendo em conta o seu mapa, 8 de Março “era o dia em que Alberto Caeiro faria a sua obra-prima”.
De acordo com o astrólogo, este heterónimo era do signo Carneiro, o que se pode compreender por ser um “guardador de rebanhos”.
Caeiro, um amante da natureza, acabou por ser vítima de um problema de pulmões mortal, “porque era regido por Mercúrio e tinha de morrer assim”. Pessoa fez o mapa de Caeiro e calculou o dia em que o Júpiter, associado à morte, substituia o Sol, que representa a vida, “e assim matou o Alberto Caeiro”.
Conforme um documento do próprio autor, MensagEm resulta da expressão latina “Mens agitat molEm”, que significa “o espírito move a matéria”.
A Mensagem é dividida em três partes, Brasão, Mar Portuguez e O Encoberto. Na opinião de Paulo Cardoso, esta obra reúne um conjunto de simbolismos que evidenciam a personalidade esotérica de Pessoa.
“Mar Portuguez” é constituído por 12 poemas e Paulo Cardoso descobriu que cada um se referia a um dos signos do zodíaco. Assim foi esse o nome escolhido pelo astrólogo para uma exposição que realizou na Torre de Belém, na década de 90. Pela exibição passaram milhares de pessoas, entre elas o então presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, que se dispôs a subsidiar uma apresentação em vídeo sobre esta temática. Foi esse o vídeo que o astrólogo apresentou em Sesimbra, agora que os direitos da obra deixaram de pertencer à família de Pessoa.
Paulo Cardoso escolheu a Torre de Belém por ser a “ilha encantada” de Pessoa. “A ilha estava, há um século, a 200 metros da costa, era envolvida pelo Ar, estava construída em cima de uma ilhota, a Terra, tinha Água em seu redor e uns canhões, que representavam o Fogo”, avançou.
Foram várias as curiosidades que o escritor descobriu quando levou a cabo a exposição na Torre de Belém, “um dos pisos é dividido por 28 degraus, o número da Lua, outro por 22, que é o número do Tarôt, e daí para a frente”, explicou, acrescentando que “a Torre mede 36,5 metros o que se refere aos 365 dias do ano, sendo também essa a sua largura”, o que faz do monumento um quadrado, composto pelos 4 elementos e cujo centro é a “essência de Deus”. Essa é a quinta essência e “Pessoa chegou a considerar-se o Rei do Quinto Império”. Defende o astrólogo que o senhor dos heterónimos constatou que o seu fundo-céu, elemento que representa a vida passada, era Aquário, à semelhança do Rei Dom Sebastião, “O Encoberto” desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir e aguardado desde sempre como a salvação do povo português, “Fernando Pessoa acreditava ter sido D. Sebastião” e terá mesmo feito “profecias e pesquisas, sempre na dúvida, será que sou eu?”.
Para além das profecias sobre a vida passada, Pessoa também fez um estudo sobre a sua morte, “não por ser mórbido, mas por ser prático e saber de quanto tempo ainda dispunha”, explicou Paulo Cardoso que apresentou um documento assinado pelo poeta onde teria escrito “duração da minha vida – fim de Maio de 1935”, data que detectou tendo em conta os momentos que, conforme os astros, seriam os mais frágeis da sua vida. Apesar de ter morrido em Novembro, 6 meses depois do previsto, o astrólogo avançou ainda que esta conta teria sido feita a partir da hora de nascimento constante na cédula de Pessoa, “mas se se tivesse baseado na hora indicada pela avó, cerca de 4 minutos depois, teria descoberto o momento exacto da sua morte”.
Fernando Pessoa terá mesmo feito publicidade em jornais da época, simulando ser um astrólogo, amigo de si próprio, e dando a conhecer os preços por si praticados. De acordo com os registos, a previsão mais dispendiosa seria a de um Horóscopo detalhado, que teria o custo de 5 mil Reis.