27.1.09

Margens vizinhas de mãos dadas
PONTE SEIXAL/BARREIRO DECRETADA “UTILIDADE PÚBLICA”


20 anos depois da ponte Barreiro/ Seixal estar incluída nos Planos Directores Municipais (PDMs), a obra foi considerada “utilidade pública” e tem agora pernas para andar.

A ambição não é de agora, mas de há mais de 2 décadas atrás, altura em que duas das Indústrias que mais contribuíram para a fixação de habitantes na Margem Sul – Siderurgia Nacional, no Seixal e Quimigal, no Barreiro – mantinham relações directas e se interligavam através de uma ponte ferroviária.
Muitas são as teses que se referem à queda dessa infra-estrutura que viria a separar as terras vizinhas, por entre as quais nadavam roazes e embarcações e cuja travessia se passou a fazer através de uma outra ponte, localizada em Coina, totalizando um percurso de mais de 20 quilómetros e bastante tempo dispendido, dada a afluência de trânsito nos locais.
Passaram-se as décadas, saltou-se de século, mudou-se de milénio… No início desta semana, o Governo publicou um despacho em Diário da República que declara a utilidade pública da Estrada Regional (ER) 10 que inclui a travessia do rio Coina e que faz parte do plano da Ligação Ferroviária de Alta Velocidade entre Lisboa e a Moita, incluindo a Terceira Travessia do Tejo em Lisboa (TTT), no Corredor Chelas–Barreiro.

Arco Ribeirinho requalificado

Segundo o Estudo de Impacto Ambiental encomendado pela RAVE (Rede Ferroviária de Alta Velocidade), a ponte terá uma extensão de 4,6 km e vai situar-se na zona mais estreita do rio, com pouco mais de 500 metros, tendo acesso directo ao IC21.
Esta nova componente rodoviária na TTT vem assim assegurar a acessibilidade rodoviária ao denominado Corredor Central da Margem Sul (Barreiro/ Seixal/ Moita) e é o primeiro que não tem ligação directa à margem Norte do Rio Tejo.
O Estudo referiu-se ainda à eventual necessidade de instalação de uma praça de portagem tradicional, mas que possa vir a ser dispensada caso seja implementado um sistema de cobrança totalmente automático, tal como a Via Verde ou o Via Card.
De acordo com o projecto, os automobilistas não poderão ultrapassar a velocidade de 80 km/h, sendo que nas zonas urbanas os limites serão mais baixos, condicionados aos actualmente existentes.
Dada a proximidade da área de intervenção da Ligação Rodoviária Seixal/ Barreiro ao sapal do Rio Coina, os responsáveis pelo estudo sugeriram a implementação de um plano de reabilitação ambiental da área perspectivando, a longo prazo, a criação de uma maior disponibilidade de habitats e de zonas de alimentação para as aves aquáticas.
Tal como o presidente da Câmara do Barreiro, Carlos Humberto, salientou, “a importância da concretização de um projecto que irá requalificar o arco ribeirinho da Margem Sul do Tejo”, até porque “poderá contribuir de forma positiva, para acelerar os planos de reconversão previstos para as áreas industriais do Barreiro e Seixal, que ao longo dos anos referenciam negativamente a imagem ribeirinha”, lê-se no Estudo.
Para além de representar a concretização de um sonho antigo, a obra é já alvo de alguma contradição.
Conforme o próprio Estudo, a obra irá ter “impactes negativos significativos em todos os locais”. Diz o documento que para os minimizar há que investir na adopção de medidas para reduzir os níveis sonoros, “mediante interposição de barreiras acústicas e aumento do isolamento sonoro de fachada” e que após a aplicação destas medidas, os efeitos nocivos “passarão a ser pouco significativos”.
Outra das visões negativas refere-se ao facto desta nova ponte se aproximar da antiga Siderurgia, onde se acumulam resíduos cuja composição e efeitos serão alegadamente desconhecidos.

Ponte nova, população rejuvenescida

No entender dos analistas, a infra-estrutura vem melhorar a qualidade de vida da população, nomeadamente a nível de acessibilidades, pois prevêem-se “reduções significativas de tempo de viagem, quer em transporte individual, quer em transporte colectivo”, sendo esperado um “descongestionamento sensível nos principais acessos rodoviários às actuais travessias do Tejo”.
Lê-se no documento que “os principais benefícios ao nível local são esperados para os concelhos e em particular para as freguesias” vizinhas, já que a alteração “promoverá uma maior atractividade destes locais para a fixação de população residente em idade activa, contribuindo também para um rejuvenescimento da população”.
Outra ideia confirmada refere-se à criação de postos de trabalho directos, indirectos e induzidos por via da construção da TTT e que terá impactes económicos e sociais positivos nas economias locais.
Uma infra-estrutura essencial para a população que há muito tem de se fazer às filas para chegar ao Concelho vizinho e para conquistar novas empresas, “contribuindo fortemente para a dinamização da economia local e, por sua vez, da economia de toda a margem Sul do Rio Tejo, conduzindo a uma atenuação significativa dos desequilíbrios e assimetrias da AML”.Os defensores da ideia não têm dúvidas, “o presente projecto contribuirá para promover a criação de um sistema de transportes mais eficiente, que servirá a população com mais rapidez, mais qualidade e maior segurança, contribuindo para alcançar um maior equilíbrio entre os modos de transporte disponíveis, numa das zonas de maior densidade populacional do País e nas deslocações internacionais”.


Jornal do Seixal, edição nº 57, 24 de Janeiro de 2009